Ultimamente vivo mordendo os lábios
a língua, gengivas
meus dentes andam loucos
desorientados
sem a mínima coordenação motora.
Tanto faz miolo de pão
bagaço de laranja
bolo
frango
carne moída.
Ao som das batidas do peito
meus dentes dançam
pulam
exasperam-se
arrancando raízes
sangrando pelas coroas
amálgamas, resinas.
Meus dentes,
umas figuras:
gigantes
anões
corcundas
dilacerados
altivos
afiados
todos debaixo
do céu vermelho da boca
à espera de um pescoço
um dedão bem feminino
o lóbulo de uma orelha com brinco
um par de coxas lambuzadas de creme.
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