Hoje faz 25 anos que a poetisa e doceira Cora Coralina virou estrela no céu. Não temos mais os doces feitos pelas mãos calejadas na labuta do campo e da cozinha, mas temos seus poemas, retratos de sua alma singela e bela. Ela era uma mulher da terra, que trabalhava a terra e a amava com um "velho amor consagrado". Cora Coralina: mulher antiga, mulher de roça, semente, pedra, mato, paiol, cana, água, terra: amor. (Stela Siebra Brito)
(trechos do poema A GLEBA ME TRANSFIGURA de CORA CORALINA)
Sou árvore, sou tronco, sou raiz, sou folha,
Sou graveto, sou mato, sou paiol
E sou a velha tulha de barro.
Amo a terra de um velho amor consagrado
através de gerações de avós rústicos
A gleba está dentro de mim. Eu sou a terra.
Identificada com seus homens rudes e obscuros,
Enxadeiros, machadeiros e boiadeiros, peões e moradores.
Juntos rezamos pela chuva e pelo sol.
Assuntamos de um trovão longínquo, de um fuzilar
de relâmpagos, de um sol fulgurante e desesperador,
abatendo as lavouras carecidas.
Festejamos a formação no espaço de grandes nuvens escuras
Minha identificação com a gleba e com a sua gente.
Mulher da roça eu o sou.
A gleba me transfigura, sou semente, sou pedra.
Pela minha voz cantam todos os pássaros do mundo.
Sou a cigarra cantadeira de um longo estio que se chama Vida.
Sou a formiga incansável, diligente, compondo seus abastos.
Em mim a planta renasce e floresce, sementeia e sobrevive.
Sou a espiga e o grão fecundo que retornam à terra.
Eu sou o velho paiol e a velha tulha roceira.
Eu sou a terra milenária, eu venho de milênios.
Eu sou a mulher mais antiga do mundo, plantada e fecundada
no ventre escuro da terra.
Um comentário:
Amiga querida, nós somos do interior pé-de-serra, vistas da Ponta da Serra , Lameiro, Grangeiro, Batateira e São José. E nessa água tão doce , pobre de minérios, rica dos amores, temos a fonte perene do encanto, ponto de encontro constante... Cariricaturas é um banco, no jardim da nossa infância.
Abraço carinhoso.
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