Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 25 de maio de 2010

CAVALGADA - Por Edilma Rocha



Na fazenda Serra Verde meu programa preferido era cavalgar pelas manhãs. Mas naquele dia o passeio seria longo até São Paulo. Calma, não São Paulo capital, e sim um pequeno vilarejo na região. E para isso os preparativos teriam que ser diferentes, animais descansados e bem alimentados para resistir ao longo caminho.
Roque era o tratador dos cavalos da fazenda e estava sempre à nossa disposição. Nesse dia, acordei cedinho e saí para ajudar a preparar os animais que eram levados um a um para receber a manta, a sela prendendo a cilha, o peitoral, estribos e arreios. Puxo pela memória e vou me encontrar na lembrança subindo e descendo a ladeira num compasso ou galope montando um belo animal.
Os cavalos eram todos marcados a ferro com o símbolo Bloc Boris representado por dois bs grandes de costas um para o outro. Claude sempre ficava com o cavalo do pai, Sr. Hubert, animal que cumpria muito bem as ordens das rédeas, tinha o pisar elegante, a cabeça sempre baixa marchando e chamando a atenção por onde passava pelo porte, o brilho do pêlo fino e do bom trato. Dominique montava o cavalo da mãe, Sra. Janine, de pêlo branco, um pouco mais dócil, e que também cumpria orientações das rédeas e seguia o compasso dos outros. Iza estava por perto num burro selado que acompanhava muito bem a cavalgada.
O cavalo que eu montava era arisco sempre pisando nos cascos esperando ansioso a hora de soltar-lhe as rédeas para seguir em disparada. Quando eu subia na sela tinha logo que dar algumas voltas depressa numa marcha bonita para poder dominá-lo. Era um animal que se o seu montador fosse medroso não subia no seu lombo e os outros só o alcançariam à galopes. Um marchador veloz numa figura imponente de cor marrom com manchas brancas, sacudia a crina bem cuidada e mexia os beiços mostrando os dentes. Queria sair em disparada e soltava ar pelas ventas. Um animal que eu considerava uma obra de arte mas que metia medo em alguns iniciantes e precisava de uma artista para fazê-lo marchar elegante, mas eu o conhecia muito bem pois comecei a monta-lo menina com o auxilio de um tamborete.
A casa grande ficava no alto e a estribaria ao lado nos fundos. Na frente da casa a ladeira enorme que descíamos devagar para depois seguir a galope passando pelo açude, o engenho, as plantações, as pastagens e o gado que ficavam para trás cobertos pela nuvem de poeira vermelha. Seguimos na estrada e deixamos os caboclos de boca aberta pelo caminho pois eram só mulheres na montaria. Quando chegamos a São Paulo o barulho do trote dos cascos dos cavalos no calçamento chamava á atenção de todos que corriam para ver as visitantes. Hora de apear, de esticar as pernas dormentes e encantar a caboclada na figura de Claude, moça bonita e estrangeira. Parada obrigatória na bodega do lugar para saborear uma cajuína fria servida em canecos de alumínio que matava nossa sede. Num instante a bodega estava cheia de gente e muitos puxavam conversa. Entravam, meninos, mulheres e até cachorros vira-latas por uma desculpa qualquer, queriam era aproveitar a novidade. Conversa vai conversa vem, animais com a sede saciada, era chegada a hora de voltar para casa.
Saímos primeiro em marcha baixa e sob os olhares de todos e nos afastamos desaparecendo na continuação da estrada para depois seguir a galope conversando pelo caminho. Sentia o sacudir do meu corpo na marcha bonita e macia do meu cavalo que mais parecia desfilar em dia de gala. O vento batendo no rosto suado pelo calor do sol forte, e já eram quase meio-dia quando avistamos a casa grande. E num último galope subimos a ladeira em disparada que mal se via as pernas dos animais em meio a poeira. La dentro da casa Grande nos aguardava um almoço delicioso preparado no capricho e que certamente todas as lembranças das férias levaríamos na memória para sempre .

Edilma Rocha
Obs - Na foto ainda estava sem sela

8 comentários:

socorro moreira disse...

Que delícia !
Você sabe contar o passado !

Abraços, querida !

Claude Bloc disse...

Edilma,


Eita nós, hem???
E as músicas que a gente inventava pelo caminho?

Voei, pousei e me deliciei!!!!

Abração!

Claude

P.S. Olha lá nosso encontro sexta-feira. Não se esquece.

Edilma disse...

Socorro,

Estas e muitas outras historias entranham nas lembranças das suas amigas Claude e Edilma. Tivemos uma ligação muito forte e crescemos juntas.
Conto o passado com o coração e a verdade.
Beijo !

Edilma disse...

Claude,

Eita nós, sim !
As musicas ficaram na poeira do tempo e um vento forte levou para longe... qualquer hora inventaremos novamente.
A sua familia foi muito importante na minha educação e formação. Até arranho um francês...
Salut ! je máppelle Edilma
Dame de 16 ans, sensible, actif et cultivé. kkkkk.....

Beijo!

Domingos Barroso disse...

Edilma,
tua prosa é aprazível de se ler.
Meus olhos debruçam-se sobre o teclado. E vou lendo (de acordo com a respiração) sempre estampado
um riso de deleite no rosto.
No canto dos lábios.

Carinhoso abraço.

Edilma disse...

Domingos Barroso,

Quanta honra !
Estou envaidecida em saber que aprecias minhas historias.
Opine, me dê sugestões e orientações. Uso um pouco do palavriar do sertanejo para dar um pouco de graça a escrita simples. Meu dicionario é feito de simplicidade, não sei escrever dificil.
Obrigada !

Grande abraço !

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Edilma me surpreendeu com este texto. Ela não era um ser puramente urbano, das luzes, dos automóveis, perfumes e flores. Praças e pisos macios. Edilma faz um texto de conteúdo rural, revelando o prazer da cavalgada, a novidade na pequena vila, os segredos dos cavalos e de sua montaria. Com palavras precisas e tipicamente de vida. Especialmente aquele retorno para a mesa farta.

Edilma disse...

Do Vale,

Não sou uma escritora. Apenas escrivinho em alguns cadernos de vez em quando. Continuo a repetir que meu dicionário não é rico em palavras difíceis e escrevo como falo. Essa brincadeira de escritora esta ficando com ar de verdade através do blog Cariricaturas. Está virando até livro. Claude e Socorro são amigas de infância e adolecencia.
Mas tenha a certeza de que minhas historias são reais.
Quanto a experiência rural, foi fato. Passei praticamente todas as minhas ferias na Serra Verde e era uma capeta em cima de um cavalo, modéstia parte.
Por favor me corrija e me oriente quando achar necessário, lhe agradeço.
Obrigada pela sua atenção.

Grande abraço !