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sexta-feira, 28 de maio de 2010

Histórias da Dona Valda (Maria caixa de pó)- por Socorro Moreira


Ele de Itambé (Pe); ela de Pedra do fogo(PB). Cidades fronteiriças.

A família dela transferiu-se na década de 20 para o Crato. Seu Lima começou uma indústria caseira de vinhos e doces, e assegurou a subsistência da sua prole. Mas naquele tempo a varíola comia de esmola. Quando um adoecia, os outros também caíam doentes.

Chico Nunes, viajante de medicamentos, parou no Crato, e tomou conhecimento de que uma família das suas bandas estava sofrendo horrores, vitimada pela bexiga . Resolveu fazer-lhes uma visitinha para prestar apoio, e conferir, se os conhecia.

Encontrou a filharada deitada no chão, em folhas de bananas. Maria Lima , mesmo coberta de feridas e olhar febril, não escondeu a beleza aos olhos do rapaz. Nas revisitas foi-se apaixonando, e logo a pediu em casamento. Voltou poucos meses depois para a celebração do matrimônio. Pedro Maia, que tinha o melhor ,ou quase único, carro de aluguel da cidade, conduziu a noiva até à Igreja. Disse na ocasião que fora a noiva mais bonita que o Crato já conhecera.

Depois da festa partiram para uma nova vida , numa fazenda de carnaúba, no município de Picos(PI).

Ali, Maria passou 20 anos , sem ver pai, nem mãe. Nos dias de feira, Seu Chico Nunes trazia-lhe de presente, caixinhas de pó, que ela usava sem parcimônia, noite e dia. Por conta disso, ganhou do marido , o apelido de Maria Caixa de Pó !

Do casal nasceram 9 filhos. Á medida que completavam 7 anos saiam pra estudar na cidade. Foi assim com a minha mãe.

Dona Valda lembrou-me hoje, quando a visitei, essas passagens , dando ênfase ao atributo maior de Maria, que salva guardava a sua beleza : a paciência !

Durante todos aqueles anos rogou à Santa Rita, a graça de poder voltar para o convívio dos seus. E antes de morrer, aliás, muito antes, alcançou tal graça.

Hoje a lição me foi repetida : ter paciência ! Qualidade da minha avó, herdada p0r minha mãe, que eu desejo também aproveitar, nos anos que me restam.

'Quem deseja, e espera ...Sempre alcança !"

Diz a minha mãe, justo para mim, sempre tão inquieta, irreverente , impulsiva ,e imediatista !Terei jeito ? Confio na velhice !
* Ofereço este texto ao primo Edmar Lima Cordeiro, colaborador do Cariricaturas, que vive há muitos anos no Paraná. Hoje pelas graças da Internet, mais próximo do nosso convívio !
Maria Caixa de Pó, minha avó materna ,é também a sua tia Bibia.

Um comentário:

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

Socorro

Excelente história essa da sua avó. E a memória do carro de Pedro Maia me fez lembrar que nossa família só andava nele. Soube também que um pai de uma aluna do Colégio Santa Tereza deu a ela um castigo: um mês sendo transportada para o colégio no velho carrinho de Pedro Maia? Soube da história, mas não lembro quem foi a personagem. Você pode pesquisar?