Teria agora um momento e tanto
para escrever versos apaixonados.
Meus ombros dormentes.
O intestino triste.
Teria neste instante a cumplicidade
da madrugada e o silêncio dos vizinhos.
Poderia dizer "boa noite, amor."
Somente.
Sem conhecer teu rosto.
Se os olhos verdes
ou negros.
Se existe abismo
para procurar orquídeas.
Febre por morder tua orelha
tenho muita e incessante.
O delírio da alma
iniciaria pela carne.
Mas por infortúnio
e dádiva
tenho neste exato momento
apenas fome: de pão
e de um copo de leite.
3 comentários:
Nem só de pão vive o homem.
Teu antepasto é feito de paixão e poesia !
Este verso se o lesse sem o nome do autor teria como certo ser o Domingos. Se não fosse era alguém a imitá-lo ou igualmente da mesma senda poética. O domingo que fala em ombros e intestinos e que ao mesmo tempo demonstra, exatamente, o que o aflige naquele momento, de um modo aparentemente prosaico falando de um copo de leite e pão. Aí vamos para o conjunto e lá sai ele fazendo referência a um conjunto de heranças de letras de música e outros poemas: "boa noite, amor" (Adoniran Barbosa: Boa noite, Zé, até amanhã se Deus quiser, ou "boa noite, amor, meu grande amor, contigo sonharei); olhos verdes; abismo e orquídeas, e assim vai, procurem mais.
Sacerdotisa,
sei que teu alimento antes do suspiro (e anterior ao soluço) também é Poesia.
Carinhoso abraço.
José do Vale Pinheiro Feitosa,
com que transparência tu dissecas o invisível... Admirável. Forte abraço.
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