Artur Gomes
palavras as vezes não são coisas palpáveis como corpo são etéreas como éter ou invisíveis como espírito e brincam de se esconder da nossa boca
alguma poesia
I
não. não bastaria a poesia
deste bonde
que despenca lua
nos meus cílios.
num trapézio de pingentes
onde a lapa
carregada de pivetes nos seus arcos
ferindo a fria noite como um tapa
vai fazendo amor por entre os trilhos.
II
não. não bastaria a poesia cristalina
se rasgando o corpo
estão muitas meninas
tentando a sorte
em cada porta de metrô.
e nós poetas desvendando palavrinhas
vamos dançando uma vertigem
no tal circo voador.
III
não. não bastaria todo riso pelas praças
nem o amor que os pombos tecem pelos milhos
com os pardais despedaçando nas vidraças
e as mulheres cuidando dos seus filhos.
IV
não bastaria delirar Copacabana
e esta coisa de sal que não me engana
a lua na carne navalhando
um charme gay
e um cheiro de fêmea
no ar devorador
aparentando realismo hiper-moderno,
num corpo de anjo
que não foi meu deus quem fez
esse gosto de coisa do inferno
como provar do amor
no posto seis.
numa cósmica e profana poesia
entre as pedras e o mar do Arpoador
uma mistura de feitiço e fantasia
em altas ondas
de mistérios que são vossos.
V
não. não bastaria toda poesia
que eu trago em minha alma
um tanto porca,
este postal com uma imagem
meio Lorca:
um bondinho aterrizando lá na Urca
e esta cidade deitando água
em meus destroços
pois se o cristo redentor
deixasse a pedra
na certa nunca mais
rezaria padre-nossos
e na certa só faria
poesia com os meus ossos.
afiando a carNAvalha
para Eliakin Rufino
cocada agora
só se for de coco
paçoca de amendoin
cigarro só se for de palha
cacique só se for da mata
linguagem só tupiniquim
bala só se for de prata
água só se aguardente
tônica só se for com gin
estado só se for de surto
eleição só se for sem furto
brilho só no camarim
golaço só se for de letra
ronaldo só se for gaúcho
malando só se mandarim
política só se for decente
partido só sem presidente
governo eu que mando em mim
batismo só se for de pia
congresso só de poesia
reinaldo só se for jardim
www.almadepoeta.com
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