O trem
Lá vem... lá vem o trem.
Gigante. Imponente. Com os seus vagões, de carga ou de passageiros, encantava a criançada. No início, a Maria Fumaça que, movida à lenha, deixava o seu ruído ser interpretado, na doce ingenuidade embalada pelo espírito leve e criativo de criança, de café com pão, bolacha não...café com pão, bolacha não. Piui...Piui... Aos poucos, a Maria Fumaça foi substituída por um maquinário moderno, mais elegante, de cores vibrantes. Revelando sempre a sua imperiosidade, ainda distante, através de sua buzina estridente, sibilante, trilhando entre os seus trilhos e a paisagem verde, anunciava, em breve, a sua passagem. E, a criançada, destemida e abraçada por sonhos e fantasias, deixava para trás toda a brincadeira, chinelos e, com vestes despojadas, cabelos soltos ao vento, corria em direção ao seu encontro. Não importava a temperatura da terra, do sol ardente, dos espinhos que atravessavam o caminho. Nada era empecilho para desfrutar dessa aventura, de acenar para os passageiros, como um gesto de saudação, onde a satisfação se fazia presente em cada rosto, pelo sorriso singelo e inocente, próprio da idade.
Gigante em seu tamanho. Para a criançada, nada mais que um brinquedo miudinho, que, atrelado às suas estripulias, em período de férias, deleitava-se na mais doce ingenuidade de brincar com os seus trilhos, sobrepondo areia e pedras, na ilusão de desviar o seu percurso. E o trem continuava com a sua imponência, suavemente deslizando sobre os seus trilhos, ignorando e jogando ao lado as pedras e areia ali depositadas pelas nossas travessuras.
Tanta inocência! Somente o mundo de fantasias poderia responder tão grandioso desafio.
Hoje, cada um seguiu o seu destino. O trem, a criançada com os seus sonhos, fantasias e estripulias, bem como os demais habitantes daquela região, que, dos alpendres e calçadas de suas casas, contemplavam a sua passagem. O tempo passou e levou consigo todo o encantamento do trem. Com ele, muitos passageiros fizeram sua última viagem em busca de uma nova vida. Da bagagem, sentimentos, amizades, sonhos, alegrias e lembranças que adoçam a nossa existência.
E o trem de passageiros, assim como aconteceu com a Maria Fumaça, seguindo o ritmo da vida, ficou para trás. Lá se foi o trem... lá se foi o trem. Assim é a vida. Vivendo cada um o seu momento. Agora o espaço é do metrô, que certamente encantara a criançada.
Sítio São José – Crato – Ce
Teresa Barreto M. Peretti (Tetê)
7 comentários:
Este texto é um presente !
Amei !!!!!!!!!!!!!!!
Abraços, minha Tetê !
Tetê
Gosto de seus textos, eles trazem o cheiro da terra que deixamos lá no interior.
Parabéns
Aloísio
Tetê
Uma das pessoas da foto, eu conheço?
Abraços
Aloísio
Teresa,
Belo texto, ótimas informaçoes para quem não lembra.
Considero um presente matutino para o dia 23 de setembro.
Abração: Liduina.
Tetê,
Esse trem fez parte de nossa infância. E como nos encantávamos com a sua grandeza. Hoje nos resta a lembrança desse trem de ferro e das pessoas que embarcaram no trem da vida.
Gostei tanto desse texto! Falar em trem é sempre falar de um tempo de magia, de brincadeira, de ser feliz com as pequenas coisas da vida. Ver o trem passar, ver o trem chegar, ver o trem partir, três momentos de distintos.
E agora? vamos partir nesse trem?
Mesmo se um trem já partiu, amanhã, ou pra semana, tem outro.
Eita! que eu comecei a divagar...
Coisas que um trem provoca!
Adorei teu texto Tetê. beijos
stela
Tetê,saudades.
Vc descreve com perfeição nossos tempos de infancia,nos levando a reviver momentos tao felizes e inocentes e que nos deram alicerce para uma vida de irmãos.Bjs carinhosos e de agradecimentos a essa familia tão maravilhosa e especial.
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