Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Atitude Nobre - Colaboração de Joaquim Pinheiro



Atitude Nobre: Miguel Arraes - Cícero Dias - Salomão Kelner

Na década de 50, o pintor Cícero Dias foi estudar na França e, terminado o curso, resolveu fixar residência em Paris. Como não tinha mais a bolsa, mandou que suas irmãs organizassem exposição e vendessem os quadros que havia deixado em Recife e lhe mandassem o valor arrecadado para organizar sua vida. Dr. Arraes, na época prefeito do Recife, foi à exposição pela manhã, escolheu uma das telas, acertando com a irmã do pintor que no final do dia levaria o dinheiro e pegaria o quadro. No intervalo do almoço, a pessoa que atendeu Dr. Arraes saiu para a refeição, deixou outra irmã na exposição mas esqueceu de avisar que o quadro havia sido vendido. Dr. Salomão Kelner, médico e professor da UFPE, aproveitou o horário do meio dia, interessou-se pelo mesmo quadro e o comprou. Mais tarde, quando Dr. Arraes foi buscar a obra, ela não estava mais lá. Somente após trocas de telefonemas e muitos contatos, esclareceram o mal entendido. As irmãs de Cícero Dias chegaram a falar com o comprador pedindo a devolução, prontamente aceita pelo médico, mas Miguel Arraes preferiu levar outro quadro. No Natal de 1964, Dr. Arraes preso no quartel do corpo de bombeiros, a maioria dos correligionários presos ou cassados, poucos amigos presentes, Dr. Salomão vai ao quartel e pede ao Oficial do dia para entregar o quadro de Cícero Dias a título de Presente de Natal. Como agradecimento, Dr. Arraes escreveu a carta transcrita abaixo e que lhe mando em anexo, juntamente com a imagem do quadro, hoje em poder do Instituto Miguel Arraes:


Meu Caro Salomão,

Não sei como você se lembrou do quadro de Cícero dias, de que, em algumas ocasiões e não muito freqüentes, tive oportunidade de falar, porque constituiu uma espécie de abertura para a apreciação de trabalhos de arte moderna, muitos anos atrás. Sei, apenas, que sua lembrança ficou valendo muito mais do que o quadro, agora indispensável, não mais por ser um trabalho de que gostei, mas porque representa um testemunho de um gesto muito amigo, numa hora difícil para mim.

A sua e outras demonstrações de amizade, de apoio e dedicação que tenho recebido, se não apagam as marcas da injustiça, criam a compensação necessária para que possamos suportá-la. Mais ainda, nos dão ânimo para continuarmos a acreditar nas grandes mensagens que haverão de libertar a humanidade dos preconceitos e das desigualdades.

Felicidade para você e para os seus no ano que inicia. Minhas melhores recomendações à Dra Miriam.

Um grande abraço do amigo de sempre,

Miguel Arraes de Alencar

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