Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Tragédia

Uma andorinha nada confiável
segundo as más línguas
tudo que vê ela fala

entrou pela janela
do banheiro
e sentou sobre o teclado
com as patinhas cruzadas.

Sinto lhe dizer,
querida (perdoe-me)
essa infame andorinha
viu sua fotografia,
leu nossos e-mails
e até os versos
que nem você
em sonhos
imaginava.

Tentei segurá-la pelas asas
mas arisca e zombando
da minha aflição
pela área de serviço
safou-se.

Nesta hora,
todo o céu da minha aldeia
sabe do nosso segredo
certamente: as borboletas,
os vaga-lumes, as estrelas
e a lua (em todas as fases) .

Mas não se desespere,
eu tenho um flagrante
dessa pervertida andorinha
em uma manhã de verão
entre os jarros da varanda
atracada a um canário belga
faziam horrores
e delícias.

Tirei algumas fotos

(meu bem,
você não sonha
como os pássaros
são voluptuosos
e febris) .

Portanto não se preocupe.
Agora mesmo mexo no baú antigo
da minha vozinha à procura de um frasquinho

cujo líquido precioso (alquimia)
assim que bebo dois golinhos
na posição de lótus
transformo-me em ave
(um pelicano) .

Não demora encontrarei
a metida andorinha
e serei maquiavélico:

ou ela se contradiz
pede desculpas
e se justifica a todos
do céu da minha aldeia
(borboletas, vaga-lumes,
estrelas e a lua (em todas
as fases) tratar-se apenas
uma pegadinha ou mostro
feliz da vida as fotos dela
com seu canário belga
entre os jarros
no maior pega
e sarros.

Também falam as más línguas
que essa indiscreta andorinha
tem fama de querer ser beata,
cheia de pudores
e zelos.

Ela aceitará.
Aliás, aproveitarei
(já que sou pelicano)

e vou levá-la
pra varanda
entre os jarros
pra ver se ela
é de fato
incrível.

Farei miséria,
só de mal (afinal
sou um pelicano) .

Não sinta ciúmes,
querida:

é pra que a intrusa
aprenda de vez
a não ser tão

curiosa,
enxerida
e faceira.

2 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

O nosso poeta de volta. Passei grande parte do canto imaginando uma alegoria à Campanha Eleitoral. E até tem pois este é um poeta da transcendência do imediato imanente. Poeta as coisas vãs da latrina, do portal para atingir a significância deste modo vão de ser. Mas qual o quê minhas impressões eram parciais. O poeta faz uma poesia de gênero, não aquele gênero condenável da descriminação, mas o gênero da faisca dos contrários. Do gênero que ao se deparar com o outro, ao invés do estranhamento deseja um espaço entre os jarros para a fusão. Belo poema nos diz este Barroso que tem, além de tudo, um sobrenome antigo e caro ao Ceará.

Domingos Barroso disse...

Como é ótimo ouvi-lo,
José do Vale Pinheiro Feitosa
...

Forte abraço,
meu camarada.