"Loucuras por amor"
Acredito que podemos abrir no cariricaturas um fórum com o tema," afinal qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor valerá."
Dou meu pontapé inicial.
Nos anos 90, moravam em Recife meus filhos:Giorgio(35), Samira(32) e Dayan(30).
Frequentemente eu viajava pra cheirar as crias, desatar nós(por obrigação) e ver filmes(por devoção).
A rotina era sempre a mesma. Depois de matar a saudade, combatia os problemas um a um( e não eram poucos). Resolvidas as questões pendentes sentia-me livre para abrir o jornal na página de cinema e assim começar minha maratona de amante.
Numa dessas viagens o lançamento em cartaz era Don Juan de Marco , Cinema Apolo, o mais próximo de casa.
Ir sozinha para Dayan , meu filho, era inapropriado. Centro do Recife? Perigo à vista! Imaginem?
Deixar minguar meu desejo? Nunquinha...Foi o filho saindo pro colégio por uma porta, eu pela outra como quem estava fazendo uma travessura escondida dos pais.
Da rua do Progresso onde eles moravam para a Conde da Boa Vista, onde eu pegaria o ônibus, era um pulo. Sem atropelos eu logo chegaria ao destino. Lerdo engano. Já nos primeiros passos rumo a parada de ônibus, pisei em falso, cai, torci o pé, exatamente o mesmo pé que em época passada tinha sido engessado por um problema semelhante.
Puts!!!!Minha voz interior no entanto falou:Levanta, sacode a poeira e dar a volta por cima...Se voltei pra casa? Que nada..mudei os planos. Peguei um taxi e continuei minha aventura.
Minha intuição dizia, dibla à má sorte, tudo isso é bobagem.
Arrastando o pé cheguei ao cinema.No lugar de mocinhos e/ou bandidos como alardeava meu filho, encontrei senhorinhas de cabeças brancas, num típico programa vespertino, bem família.
A sessão começa...suspendo o pé, sem dar nenhuma importãncia ao inchasso e a dor que pouco a pouco tomava maiores dimensões.
Aguentei firme até o final da exibição (pura loucura de amor), quando então peguei um novo taxi direto para um pronto socorro.
Fiz tudo caladinha, sozinha, sem reclamar.
Medicada e engessada, liguei pros filhos, morrendo de medo da bronca: Venham me buscar...estou no pronto socorro...andando displicentemente(???) pelas ruas do Recife...torci o pé...Mas tudo bem....não se preocupem...
Tudo seria cômico , se não tivesse sido trágico!
Agora falo do filme...
Dom Juan de Marco (Don Juan DeMarco, EUA, 1995)
“A história do homem que pensava ser o maior amante do mundo... e das pessoas que tentaram curá-lo disso!”
O psiquiatra Jack (Marlon Brando) recebe um chamado no meio da noite, de um amigo seu da polícia, para ajudar a resgatar um suicida. Chegando ao local, ele vê um rapaz vestido como um herói de capa-e-espada e dizendo se chamar Don Juan (Johnny Depp), o maior amante do mundo. Se dizendo um dono de terras espanhol, Jack resgata o jovem e o interna no hospital em que trabalha.
Mesmo a apenas uma semana da aposentadoria, o doutor começa a tratar de Don Juan, para ajudar a passar as ideias suicidas, detonadas por uma dor de amor, onde Juan explica não querer mais viver depois que sua amada Doña Ana (Geraldine Padilhas) o desprezou.
Ouvindo a história do jovem, Jack começa a se contagiar com os detalhes e a ambientação de tudo o que ele lhe conta, redescobrindo o prazer de viver e se questionando: será que Don Juan é mesmo Don Juan de Marco?
Além da atuação de Marlon Brando(no papel do psiquiatra) e John Depp (Don Juan), geniais como sempre,o destaque para o tema musical, Have you ever really loved a woman (Bryan Adams).Maravilhoso!
2 comentários:
Zélia, você se superou !
Amei o texto.
abraços.
Já matei o tempo namorando às escondidas; roubei carinho, no mais inusitado dos momentos; vivi perdas, enlouquecidamente; senti saudades na espera, e falta na desesperança; surtei de paixão, e amei perdidamente; fui louca, e nunca me curei!
Zélia sugeriu o tema, logo hoje, dia de Nossa Senhora da Cabeça.
Lembrei-me do meu grupo de terapia, nos anos 70. Dias confinados, no Mosteiro de São Bento em Olinda – palco de situações vividas, no nível de emoções. Naquela época eu já tinha uma conta alta de loucuras. Depois começaram os créditos, mas ainda hoje estou no vermelho, considerando que, a loucura seja “débito”.
O caráter da loucura inconsequente nos livra das culpas?
As culpas...! Enquanto dela não nos libertamos, ela nos oprime, brinca com a nossa cara, até que a gente confesse as nossas peripécias...
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