Não se desanime.
Aliás desanime-se.
O poeta não é dono das palavras.
Delas lacaio.
Escreva torto, ávido, manso.
Com os dedos das mãos
ou com o esmalte das nuvens.
Mas escreva.
Ora se atinge o pássaro em pleno voo,
ora sequer acertamos na mosca morta.
Escreva.
O poema lama, o poema sal, o poema sede.
Não se apiede das sombras.
Depois se quiser rasgue.
Triture.
Coma.
O poema escrito é seu.
Quem lê é senhor de outro.
Portanto,
não se enraiveça.
Ou melhor,
enraiveça-se.
Mas escreva.
Escreva.
O poeta é apenas
dono do silêncio -
que tem outro nome,
que mora noutro espaço.
2 comentários:
Sábio incentivo.
-Capataz dos poetas tímidos !
O poeta prepara o perigo (A.Jamacaru)
Postar um comentário