Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

João de Barros do Crato a São Paulo mais um pequeno trecho - por José do Vale Pinheiro Feitosa

João de Barros considera que a viagem perdeu riqueza depois da cidade de Milagres, à margem da BR 116 na Bahia. Até ali era nordeste e depois não era mais. Quando perguntado como fora este trecho ele contou com seu português da Batateira. Um detalhe é que durante todas esta viagem entre Crato e São Paulo, sempre havia uma voz misteriosa fazendo uma síntese política das questões. Como se adivinhasse o pensamento de João. Ele tentatva achar o autor, mas nunca o encontrou. Eis a narrativa:

- De Milagres inté os can-mim revortado das Minas Gerais nóis fumo subino uma serra atrás da outra. Nóis estava lá embaixo e quano dava cuiva, ói a ruma de carro subino beim degavazim, um atrás do outro, inté parecia a listra de gente dos rumêro do Juazeiro inu inté o arto do horto do Padi Cico. Era cuma nóis ia, se desapegano do mundo natá, astravéis de tantas terras qui parecia ter vontade de levar nóis a se esquecer. E nóis era deste tamam-in. Nóis num era quase nada. Nóis era pingo d´água no mar. Nóis uma coisa pequena, mas era uma coisa, cuma iágua num ri, nóis ia no mei da ruma. E cuma ia, tomém vortava carro no sentido contraru. E nelis tomém vin-a gente de lá prá cá. Mais ia do que vortava, mas vortava um bucado. Nóis de cara empanbada, da testa coberta de puêra, da guela preguenta, da boca com travo de jiló, dos dente desbotado, dos lábios rachado. Nóis, estas bucha qui enchi os can-i-ão das guerra, cuma se tuvera uma ventania, ia seno arrastado, ora em velocidade e ora quase parano, mas o vento levava. E lá prá metade da premêra banda da noite, nóis estava, despois duma ruma de catabi, intrano na cidade de Jequié. Um bocado de bodega vendeno cumida, uma ruma de posto de gasolina e muita oficina para consertar os carros destas boca de pilão das estradas. Enchi o bucho e quano tava palitano os dente, ouvi aquela voz misteriosa que dizia umas coisas bunita, eu entendia os sentido, mais não as palavras uma pela outra: “ Que num se ingani os qui pur aqui vão. Uma voiz mais possante qui do Conselheiro os convoca. Uma voiz qui num se faz ouvir, e apenas cola n´alma cuma um visgo novo. E a voiz diz prá nóis ir beim pru mei dos ricos e lá implantar milhares de morro da Favela. A voiz diz prá nóis montar centenas de Canudos no Ri e no Sonpaulo”. Eu corri em vorta do oinbus cum a mais maió velocidade qui pudia, e mais uma vez, num incrontrei neim siná do dono da voiz.

2 comentários:

socorro moreira disse...

Eu quero é que essa estrada fure o pneu do ônibus, pra viagem ser mais longa.
Com essa turma de fotógrafos e um diretor de lambuja esse conto vai virar um romance bem filmado.

Edilma disse...

Vale, quando o ônibus rumo à São Paulo parar em Milagres, compre uma resma de papel para não dizer que não vai poder escrever mais...
Estou esperando...
Juntos em uma corrente no aniversário de Socorro Moreira !