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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

COMPOSITORES DO BRASIL




Por Zé Nilton


Amanhã, às 14 horas, na Rádio Educadora do Cariri, numa parceria Rádio Educadora/Centro Cultural Banco do Nordeste, vamos homenagear aquele que andou "vivendo tudo, o tempo todo, esse baita-negão. Aliás: MONSUETO CAMPOS DE MENEZES, versado em sete instrumentos. Monsueto, conhecido como ritmista, baterista, o homem do ziriguidum, na verdade foi mais compositor que ator, pintor, desenhista, folião, por ter sido dono de uma linha musical de extrema sensibilidade. As músicas "A Fonte Secou", "Me Deixe em Paz", " Mora na filosofia" para citar as mais conhecidas, estão entre as mais bem elaboradas melodias da MPB de todos os tempos. E a gente que gosta de música fica fascinado pelo Monsueto, precisamente por saber que ele não entendia nada de música e, pasmem, nem de português. Aliás, naquele meu encontro, no calçadão, com o Abidoral, registrado pela câmara inquieta do Dihelson, estávamos justamente falando dos gênios da música, que não precisaram conhecer teoricamente a composição, o arranjo, a harmonia, a regência, enfim, o lado formal do aprendizado musical, mas que deixaram peças imorreidoras e consagradas tempos afora. O mestre Abidoral, naquela ocasião encantadora para mim, citou o Cartola. E o Monsueto está entre os gênios da música, como assim se expressou o maestro Nicolino Cópia, (Copinha), regente da Orquestra do Copacabana Pálace, espécie de seu ghost writer: ele "fazia aquelas letras com aquela música porque estava dentro dele". Precisa dizer mais? É só lembrarmos de Bethoven !

Suas músicas têm algo de melancólico talvez por ter sido compostas em tom menor. Mas ele é tido como pertencente a uma escola especial do samba: queixa, malemolência, denúncia, alegria de cantar, lirismo.

Aliás, um depoimento de um bloguista resume o impacto da obra do "baita-negão" no momento histórico da vida de muitos brasileiros:

Se for mesmo aprofundar, considerando-se a agudeza do discurso social de suas letras, talvez ele tenha sido - muito mais do que qualquer Marx ou Engels da vida - a principal referência cultural na minha tomada de consciência, do que significava ser brasileiro, naqueles tempos confusos, onde se curtia uma necessidade imperativa de saborear a vida, correndo atrás da felicidade sim, porém sem nunca deixar de pensar na vida do próximo. Duros, tesos, pero sin perder la ternura jamás (grande mérito moral e emocional da minha geração).
O nome dele era Monsueto e foi o meu guru sambista, nesta época turbulenta que foi o início dos anos 60. Sorridente xamã bon vivant, do meu rito de passagem para o mundo 'adulto'. Tempo das ilusões - e das revoluções - perdidas.
(Do blog overmund).

Amanhã, no Prograrma COMPOSITORES DO BRASIL, falaremos um pouco da história desse embriagado, esfarrapado, abilolado, assanhado, descabelado Monsueto, músico, humorista, pintor, ator e acima de tudo excelente compositor, como se verá ao ouvir uma pequena parte do seu vasto repertório. Vamos tocar e comentar:

1. O couro do falecido
2. Siriguidum
3. Chica da Silva
4. Eu quero essa mulher assim mesmo
5. Me empresta teu lenço /Me deixa em paz
6. A fonte secou
7. Tá pra acontecer e Levou fermento
8. Mora na Filosofia
9. Lamento da Lavadeira
10. Na casa de Antonio Jó
11. Prova Real. Monsueto
12. Me deixa em paz
13. Tributo a Monsueto – com Martinho da Vila

Quem ouvir, verá !

5 comentários:

Nilo Sergio Monteiro disse...

Prof. José Nilton.
Fiquei maravilhado ao ler seu texto. Em primeiro lugar por conhecer grande parte desse repertório e não me tocar quem era o compositor. Em segundo lugar por saber atraves de Socorro e agora com a noticia do programa na Radio Educadora que o verde da cahapada serra está a abraça-lo. E imagino a fila de gente boa a disputar esse abraço. Vou é atrás de um radinho TRANSGLOBE que "pega" até briga de vizinho sem ligar na tomada como dizia meu pai, pra ouvir o programa! Quem sabe "esse coroinha" aqui chegue a tempo de encontra-lo? Sigo nos primeiros dias de outubro.
um forte abraço partindo das terras pernambucanas

socorro moreira disse...

Zé Nilton,

Eita , menino que saca a alma do compositor. Parece que encorpora!
Gosto desse estudo. Não troco por filosofia pura , nem por qualquer matéria acadêmica. Qual é o curso que ensina essa matéria ?
O bar, a madrugada, o amor ou um radinho de pilhas , guardado por muito tempo ?


Nilo,

Você é apaixonado demais pela mulher "Chapada". ( risos). Mais do que por qualquer compositor brasileiro.
Homem, venha embora de uma vez . O verde não muda; o vale não fica plano, mas a vida é curta !

Abraços.

Claude Bloc disse...

Prof. Zé Nilton

Gostei do texto e da maneira peculiar com que expôs o assunto.
Denota conhecimento e entendimento profundo da "causa".

Abraço,

Claude

Anônimo disse...

Amigos Claude, Socorro e Nilo Sérgio. Agradeço pelas palavras de carinho e entusiasmo pelo apreço que devoto à musica popular brasileira.
Socorro Moreira para mim é um achado. Assim como eu ela gosta de música. Da música que toca. Não importa seu ritmo, seu tempo, seu tom. Ela gosta de música. É tal qual uma estrela que sobe todo o dia, homenageando todos os que encantam a vida com a sua música.
Claude, sangue europeu, gosta de música, e digo, como a Europa é receptiva à Música Popular Brasileira ! Badem Power se fez na Europa, assim como muitos outros. Claude Lelouch, Pierre Barouh, Sérgio Endrigo e até o fenomenal Enio Morricone, que orquestrou um disco de Chico Buarque, em 1970, quando este cumpria seu desterro na Itália, chamado "Per Un Pugno de Samba", foram responsável pela internacionalizção da nossa música.
A música brasileira é a mais rica em harmonia, em tesssitura, em diversidade ritmica, em diversificação melódica e em tudo o mais de que qualquer música existente no universo.
E Nilo Sérgio procura, na vaga do tempo, no seu radinho Transglobe, digo, de 12 faixas, sendo uma FM, que não tínhamos ainda, sintonizar, hoje, a Rádio Educadora, e ouvir o programa "Compositores do Brasil" , e a música de Monsueto, "o baita negão", que por sua privilegiada vocação musical se perpetua no panteão da música popular do Brasil.
Nilo, Sérgio, Claude e Socorro, fico por demais agradecido pelos seus comentários.
Zé Nilton

Nilo Sergio Monteiro disse...

Socorro...
Quando você menos esperar...chego de mala e cuia.
Tõ arrrumando o matulão...se avexe não...!
beijo