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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Eros e Psiqué

O Rapto de Psiqué
William - Adolphe Bourguereau ( 1895 )

Uma Poética Fábula de Amor da Mitologia

~ A História de Cupido ( Eros ) e Psiqué ~

Psiqué era uma jovem tão linda que Vênus passou a ter ciúmes dela. A deusa deu ordens a Cupido( Eros ) para induzir Psiqué a apaixonar-se por alguma criatura de má aparência, porém o próprio Cupido tornou-se seu amante. Cupido( Eros ) a pôs num palácio, mas somente a visitava na escuridão e a proibiu de tentar vê-lo. Movidas pelo ciúme as irmãs de Psique disseram-lhe que ele era um monstro e iria devorá-la.

Certa noite Psiqué pegou uma lamparina e iluminou o quarto para ver Cupido adormecido. Excitada diante da visão de sua beleza ela deixou cair sobre Cupido uma gota do óleo da lamparina, e o despertou. Por causa disso o deus abandonou-a, ressentido pela sua desobediência. Sozinha e cheia de remorsos Psiqué procurou o amante por toda a terra, e várias tarefas difíceis lhe foram impostas por Vênus. A primeira delas foi separar na escuridão da noite as impurezas de um monte enorme de várias espécies de grãos, porém as formigas apiedaram-se de Psiqué e vieram em grande número para realizar a tarefa por ela.

E assim, por um meio ou por outro, todas as tarefas foram executadas, exceto a última, que consistia em descer ao Hades e trazer o cofre da beleza usado por Perséfone. Psiqué havia praticamente conseguido realizar a proeza, quando teve a curiosidade de abrir o cofre; este continha não a beleza, e sim um sono mortal que a dominou. Entretanto Júpiter, pressionado por Cupido, consentiu finalmente em seu casamento com a amante, e Psique subiu ao céu
.
"Embora sem um templo, embora sem altar!"
.
A história de Cupido e Psiqué é, geralmente, considerada alegórica. Psiqué em grego significa borboleta como alma. Não há alegoria mais notável e bela da imortalidade da alma como a borboleta, que, depois de estender as asas, do túmulo em que se achava, depois de uma vida mesquinha e rastejante como lagarta, flutua na brisa do dia e torna-se um dos mais belos e delicados aspectos da primavera. Psique é, portanto, a alma humana, purificada pelos sofrimentos e infortúnios, e preparada, assim, para gozar a pura e verdadeira felicidade.

Nas obras de arte, Psiqué é presentada como uma jovem com asas de borboleta, juntamente com Cupido, nas diferentes situações descritas pela fábula.

Milton refere-se à história de Cupido e Psiqué, na conclusão do seu "Comus":

Seu filho, o deus Cupido, logo avança,

A linda amada, em transe, conduzindo,

Após tantos labores enfrentar;

Eis que, com a aprovação dos deuses todos,
Em sua esposa eterna há de torná-la.
E, de tal himeneu, irão dois gêmeos,
Juventude e Prazer, venturosos,
Muito em breve nascer; jurou-o Jove.

A lenda de Cupido e Psiqué é também apresentada nestes versos de T.K.Harvey:

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Quanta lenda tão bela, outrora nesse dia

Longínquo em que a razão tomava à fantasia
A asa multicor e, entre areias de ouro,
O rio carregava um líquido tesouro!

Quando a mulher sem par, beleza peregrina,

Que de sofrer e amar e lutar teve a sina,
A terra percorreu, exausta, noite e dia,
À procura do Amor, que só no céu vivia!
.
A história de Cupido e Psiqué apareceu pela primeira vez nas obras de Apuleio, escritor do segundo século da nossa era. É, portanto, uma lenda muito mais recente que a maioria das outras da Idade da Fábula. É a isso que Keats faz alusão, em sua

"Ode a Psiqué":

Ó mais bela visão! Ó derradeira imagem

Da estirpe celestial, da olímpica linhagem!
Mais bela que Diana livre de seu véu
E que Vésper erguida entre os astros do céu!
Que, no Olimpo, pudeste reluzir e ofuscar,
Embora sem um templo, embora sem altar!
.
Eros e Psiqué
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( Fernando Pessoa )...E assim vêdes, meu Irmão, que as verdadesque vos foram dadas no Grau de Neófito, eaquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto Menor
, são, ainda que opostas, a mesma verdade. (Do Ritual Do Grau De Mestre Do ÁtrioNa Ordem Templária De Portugal)
.
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa
.
Publicado pela primeira vez in Presença, n.os 41-42, Coimbra, maio de 1934. Acerca da epígrafe que encabeça este poema diz o próprio autor a uma interrogação levantada pelo crítico A. Casais Monteiro, em carta a este último:

A citação, epígrafe ao meu poema "Eros e Psiqué", de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente - o que é fato - que me foi permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de 1888. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a origem) trechos de Rituais que estão em trabalho [In VO/II.]

Eros e Psiqué -mármore branco - 1.56 x 1.68
( Antonio Canova ) 1787 - 1793
Louvre - Paris

Jean - Louis David "Eros e Psiqué" ( 1817 )

Fontes:http://www.insite.com.br/art/pessoa/cancioneiro/182.html

Imagens: Sites Variados da Internet
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Um comentário:

socorro moreira disse...

Uma das mais belas fábulas. Incansavelmente, a releio.


Abraços, Corujinha.