Há um homem que no primeiro dia é o palhaço, no segundo dia é o espectador, no terceiro dia é outra vez o palhaço e depois outra vez o espectador. Essa troca de papéis repetida indefinidamente através dos tempos embota-lhe o espírito. Sua mente transtornada é surpreendida com freqüência embaralhando os papéis; e assim é comum o palhaço cochilar na platéia e o espectador fazer mesuras no palco. Pode também suceder de essas duas figuras se postarem uma em frente à outra e, vítimas inconscientes dessa dualidade, não sabendo de imediato quem entrará em cena, impedir uma o desempenho da outra, sem que por nenhum momento se dêem conta disso.
O homem (acho eu) conhece o caminho que leva à porta de saída; todavia, devido às dimensões exageradas da casa onde se apresenta o show, antes que de todo seja tomado pela réstia da luz com que a porta o presenteia, uma voz autoritária aponta-lhe um lugar no palco ou na platéia . O homem, desconhecendo o que o aguarda lá fora, volta sempre para a monotonia do espetáculo.
Rejane Gonçalves
* Rejane, estamos aguardando seu nome, na lista de colaboradores.
Desde o ano de 1975 , que eu a considero uma das melhores escritoras que eu conheço.
Obrigada por ser nossa amiga. Sentimos orgulho de você.
Socorro Moreira
Um comentário:
Ler um conto de Rejane Gonçalaves, mesmo quando curto, é aventura de mergulho em águas profundas. O maravilhoso é que sempre se tem a certeza de que, buscando bem, surgirá uma pérola rara: uma frase síntese, um verso, uma tirada filosófica, uma alusão nas entrelinhas que nos leva à reflexão. Esse show da vida, por exemplo, que imagem!...
Vilma Abadie
Postar um comentário