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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Trajetória de um artista - Bruno Pedrosa - Por: Edilma Rocha

O jardim de Bruno Pedrosa na primavera

Biblioteca

Lateral da casa na primavera

Atelier

Fachada da casa em dias de inverno

Jardim no inverno

Bruno e Lila


Entrada principal nos dias de primavera.

Menino magrelo e desengonçado, filho do sertão de Lavras da Mangabeira, deixou seu coração sonhar nas histórias contadas pela sua avó num alpendre de casa sob a luz de um lampião. Ela lhe passou o conhecimento da história do Ceará e despertou nele o gosto pelas artes nos tesouros de José Reis de Carvalho bem escondidos no baú. Um dia chegou-se ao seu pai agricultor e disse que queria ser artista. O pai mesmo achando que aquilo não era profissão de dar dinheiro, mandou o Raimundinho pra cidade do Crato para ser letrado. Ali ele fez as primeiras amizades e logo se integrou no meio artístico participando do movimento do salão dos jovens. Promoveu eventos artísticos, um deles na Fundação J. de Figueiredo Filho, museu histórico do Crato, reunindo todos os artistas locais. Terminados os estudos no Colégio Diocesano, segue para Fortaleza para tentar penetrar no mundo artístico da capital, mas não foi bem sucedido. Não tinha cursos na área e nem diploma para ser aceito no cerco fechado dos pintores da antiga SCAP. Decidiu seguir para o Rio de Janeiro e ser bacharel em Belas Artes.
Mais uma vez o pai Raimundo André aposta no sonho do filho e o sustenta às custas de muito sacrifício. Ao chegar, apavorou-se quando descobriu que não sabia nada de arte para conversar com os colegas. Enfiou a cara nos livros e tomou gosto pela coisa. Ingressou na Faculdade de Belas Artes e aos poucos ficou sabendo que viver de arte era difícil e ao terminá-la o pai não mais o sustentaria, pois sempre afirmou pra ele que arte era coisa séria.Fez algumas exposições e viu que não teria como viver da sua arte. E para continuar tentando, mais uma vez recorreu ao seu pai para bancar uma faculdade de Arqueologia e depois Filosofia. Neste período foi viver com um tio em Pendotiba nos arredores de Niterói. Sr. Pedrosa que o acolheu como um filho e até construiu para o sobrinho o seu primeiro atelier lá no fundo do quintal, onde orgulhosamente recebia os amigos, como eu. Fez muitos trabalhos, realizou várias exposições, fundou o Museu de Arte Vicente Leite, com as aquarelas de José Reis de Carvalho, dois desenhos de Pedro Américo, herança da avó, e vários trabalhos doados pelos mestres e pintores ilustres com os quais tinha amizade.

Leu A MONTANHA DOS SETE PALMARES de Thomas Merton, um jornalista marxista, poeta, que resolveu ser monge e o livro virou-lhe a cabeça. Meu amigo fez um contrato de cinco anos no Mosteiro de São Bento e desapareceu por um tempo. Trabalhou e produziu um álbum de desenhos. Mas desiludido, porque não encontrou por lá o que procurava, voltou perdido e sem rumo e também sem amigos. Enfrentou mais uma dura realidade: a da morte do Sr. Pedrosa. Tomou conta dos negócios da família e se tornou negociante. Precisava sobreviver e não poderia viver só de arte. Retomando a sua independência , montou uma loja em Niterói e outra em Ipanema e passou a vender as rendas do Ceará e, no sótão, continuava pintando.

Conheceu a Lila com quem casou e daí nasceram duas filhas: Andréia e Tereza. A esposa filha de italianos se tornou comerciante e apostou na carreira do marido. Conseguiu comprar um apartamento no Flamengo e montou seu atelier. Lá foram assaltados várias vezes e resolveram mudar para Nova Friburgo. Nem tinha idéia de que estava adaptando o corpo de sertanejo para o clima frio da Europa que o aguardava.
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Expôs no mundo inteiro e tem quadros espalhados pelo Brasil, Estados Unidos, México, Nicarágua , Argentina, Itália , França, Suissa, Áustria, Holanda, Inglaterra, Alemanha e Portugal. Hoje reside na Itália, precisamente em Bassano del Grappa, próximo de Murano e Veneza. É um artista consagrado com um currículo brilhante, além das galerias de arte que possui pela Europa, ainda fabrica cristais assinados em Murano, tapetes e jóias exclusivas. Na trajetória de um artista vemos a realidade de que é necessário se projetar lá fora para aqui ser reconhecido.
As noites são aquecidas por uma lareira e lá fora a neve cai suavemente, enquanto escuta a filha ao piano. Mas jamais deixou de ser um sertanejo pois a sua pintura revela essa realidade que viveu nos torrões do sertão. E o Sr. Raimundo André Pedrosa, orgulhoso, recebe de vez em quando o filho, a nora e as netas, lá pras bandas de Lavras da Mangabeira.

Edilma Rocha
Acervo foográfico : Edilma Rocha

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