Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Rubem Alves - A leitura como puro prazer.

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De repente veio-me a frase. A seguir, a curiosidade de rever o trabalho de Rubem Alves. E ei-lo vibrante em um pensamento vigoroso e aberto. Instiga-nos a ler. Arrasta-nos do marasmo...
Vale a pena ver:

“Pelo poder da palavra ela pode agora navegar nas nuvens, visitar as estrelas, entrar, no corpo de animais, fluir com a seiva das plantas, investigar a imaginação da matéria, mergulhar no fundo de rios e de mares, andar por mundos que há muito deixaram de existir, assentar-se dentro de pirâmides e de catedrais góticas, ouvir corais gregorianos, ver os homens trabalhando e amando, ler as canções que escreveram, aprender das loucuras do poder, passear pelos espaços de literatura, da arte, da filosofia, dos números, lugares onde seu corpo nunca poderia ir sozinho... Corpo espelho do universo! Tudo cabe dentro dele!”


Rubem Alves

A leitura como puro prazer.

Joel Rocha - Revista da Cultura - Março de 2007

.Para o educador e escritor Rubem Alves, a convivência com a literatura deve ser sempre prazerosa. Do prazer vem o gosto; do gosto, o hábito. “Não esqueço a primeira história de Monteiro Lobato que ouvi meu pai contar. Jeca Tatuzinho. Eu era pequeno, vivia na roça. Fiquei encantado especialmente pelo murro que o Jeca Tatuzinho deu na cara da onça papuda. Tantas vezes me leram essa história que acabei por decorá-la.”

“Das aventuras de Robinson Crusoé, me lembro até da ilustração – ele vendo espantado a pegada na areia. Também me lembro com alegria das aulas de leitura na escola, da professora lendo para os alunos por puro prazer, sem exercícios de compreensão. Ela leu a obra inteira de Monteiro Lobato. E nós ouvíamos extasiados. Essas experiências talvez expliquem um pouco como, aos 8 anos, li espontaneamente a coleção inteira de literatura que meu pai assinava – Guy de Maupassant, Flaubert, Émile Zola...”

Pedagogo, psicanalista e autor de mais de 40 livros para adultos e mais de 30 para crianças, entre eles O velho que acordou menino (memórias), Se eu pudesse viver minha vida novamente... e Perguntaram-me se acredito em Deus, além de artigos para jornal e revista, Rubem Alves não se cansa de recomendar a leitura como prazer, nunca como obrigação. A seu ver, não adianta enumerar razões práticas para convencer as pessoas a ler. Também não adianta obrigá-las a ler, como ocorre freqüentemente nas escolas. É preciso ler por gosto. E afinal, como bem argumentou o escritor Jorge Luis Borges, por que ler um livro chato se há tantos livros deliciosos a serem lidos?

“Ler, para mim, é importante porque dá alegria”, diz. “Resolvi reler os Cem anos de solidão. Mentiras do princípio ao fim. Invenções da imaginação do Gabriel García Márquez! Mas fiquei possuído, mais possuído do que na primeira vez. Lembrei-me do que disse o poeta Paul Valéry: ‘Que seria de nós sem o socorro daquilo que não existe?’. Nos livros encontramos as coisas que não existem, que nos podem socorrer.”

Na introdução de O velho que acordou menino, ele fala do significado das ‘estórias’ inventadas: “O corpo se alimenta do que não existe. Temos saudade do que nunca aconteceu. Os gramáticos tiraram a palavra ‘estória’ do dicionário. Mas o que ‘história’ tem a ver com ‘estória’? A estória não quer tornar-se história, dizia Guimarães Rosa.A história acontece no tempo que aconteceu e não acontece mais. A estória mora no tempo que não aconteceu para que aconteça sempre.”

Sua receita de como saborear um livro: “Leia vagarosamente, bovinamente, ruminando, brincando com as palavras, sem querer chegar ao fim, como se estivesse fazendo amor com a pessoa amada. A leitura nos leva por mundos que nunca existiram e nem existirão, por espaços longínquos que nunca visitaremos. É desse mundo diferente, estranho ao nosso, que passamos a ver o mundo em que vivemos de uma outra forma.”

“A literatura desenvolve nossa capacidade de imaginar e propicia experiências emocionais que não poderíamos ter no cotidiano”, observa. “Sempre que nos identificamos com um personagem, sentimos o que ele sente: tristeza, saudade, esperança, raiva, amor. E ficamos mais ricos interiormente. Como disse o escritor Daniel Pennac, a virtude paradoxal da leitura está em fazer-nos abstrair do mundo para lhe reencontrarmos um sentido. Muitas pessoas encontram sentido para sua vida lendo um livro.”

Leitura prazerosa, no seu entender, é a que se faz de forma antropofágica, compartilhando vivências e sensações, comungando com o autor. Nada como o faro para reconhecer quando isso é possível. “É preciso fazer como um cachorro. Um cachorro nunca abocanha um pedaço de carne de uma vez. Ele primeiro cheira, testa para ver se a coisa é boa... Se a comida é ruim, a gente deixa no prato. Depois – e digo isso em especial para professores – é preciso que se leia por pura vagabundagem, sem ter pela frente testes de compreensão a serem respondidos. Está no Manifesto Antropofágico: ‘A alegria é a prova dos nove’. Essa é a marca da leitura!”

Ele conta que nunca imaginou nem premeditou ser escritor. Foi uma escolha feita por acaso. “Eu me sentia entediado com a aridez literária da universidade. Só livros eruditos. Aí resolvi brincar com as palavras. Os leitores gostaram e percebi então que poderia me dedicar à escrita. O primeiro livro publicado foi minha tese
de doutoramento, Teologia de Libertação. Foi editado nos Estados Unidos, virou best seller... Levei um susto. Aliás, a reação de meus leitores, adultos e crianças, até hoje me comove muito”.

Em sua trajetória pelo universo literário, Rubem Alves ressalta algumas descobertas que foram fundamentais e deixaram marcas definitivas: “Nietzsche, com quem me identifiquei imediatamente. Em Fernando Pessoa, descobri a poesia. Eu já tinha mais de 40 anos... Foram encontros mansos.”

Entre os autores e livros que mais ama, cada um de um jeito, como enfatiza, ele cita: “O eterno menino Mario Quintana. Adélia Prado, que faz poesia de uma formiga subindo na parede e de um quiabo, chifre de veado. Gabriel García Márquez: Cem anos de solidão, O amor nos tempos do cólera. Guimarães Rosa: Sagarana. Nikos Kazantzakis, autor de Zorba, o grego. Meu querido amigo Carlos Rodrigues Brandão. Manoel de Barros. Octavio Paz. Pablo Neruda: Confesso que vivi. Mia Couto: O outro pé da sereia. José Saramago: Memorial do convento, As intermitências da morte. O eterno Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll. Toda Mafalda, de Quino.”

.www.blogdogaleno.com.br/texto_ler.php?id=2868...

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