Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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domingo, 18 de outubro de 2009

Conversa com Violeiros

(Postei um poema "Vida de Violeiro".
Ei-lo reescrito e renomeado)

Conversa com Violeiros

Um dos encantos que guardo
da minha infância rural
que os anos não trazem mais:
o claro toque de um banjo.
Ao som de uma viola
ouvi cantar Cego Heleno:
metálico era seu timbre,
e pela primeira vez
assombrou-me a voz humana.
Imaginei ser poeta,
cantador e repentista.
Exemplos não me faltavam:
Inácio da Catingueira,
um gênio no desafio,
e o grande Cego Aderaldo.
Por volta dos quinze anos,
em meio às dobras da vida
de improviso, em redondilha,
cometi uma sextilha:
Eu tinha catorze anos
quando minha mãe nasceu,
sol brilhou sobre o seu medo
e espiou dentro do meu,
eu tinha catorze anos
quando minha mãe morreu.
Bem depois vim a saber
que aquele verso, ou reverso,
paradoxo, bizarria,
modéstia à parte, eu diria,
sem querer já me fazia
precursor de Zé Limeira
o poeta do absurdo
(e por evocá-lo agora
transcrevo um seu breve estudo):
Nessa vida de viola
vivo pra diante e pra trás,
nunca mais tive alegria
depois que perdi meus pais,
minha vida é de caboclo,
quatro é muito, cinco é pouco,
dez não dá, sete é demais.
Depois conheci Zé Gato,
repentista, embolador,
que entre banhos de alegria,
numa feira lá do Crato,
num certo dia inspirou-me
um verso de pé quebrado:
Bom cantador é aquele
que canta o que está lacrado
no coração mais exangue
do homem mais desalmado.
Zé Gato, cadê teu pulo?
Nos dias que ainda traço
sem viola, nem repente,
sigo pensando na mente:
Quem não canta neste mundo
no outro fica atolado,
pois o nosso mundo é este,
que o outro, é do outro lado,
por isso cante com a alma
que a vida lhe deu de agrado
para encantar quem não canta
e alegrar quem está calado!


Assis Lima.

2 comentários:

socorro moreira disse...

Assis, antes de tudo parabéns pelo dia dos médicos.
Tenho pesquisado sobre o seu trabalho , sua parceria com Ronaldo Correia, inclusive !
Outro dia , conversando com uma ex - colega de Ginásio, chegamos à conclusão de que você seria o Prof. Assis do Dom Bosco, que assessorava Dr. Zé Newton , orientando e corrigindo as nossas redações. Sentimos saudades de você, e de nós.

Um presente , receber seu texto , nessa manhã de domingo.
O Cariricaturas , agradece !
Grande abraço.

O Crato é cheio de violeiros solitários. Uma prosa poética entre eles é muito bem vinda !

Francisco Assis de Sousa Lima disse...

Socorro:

Valeu a lembrança e vale a receptividade.
Grato.
Abraços.

"Seu" Assis.