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Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 10 de outubro de 2009

A HOMOSSEXUALIDADE PELA ÓTICA DA CIÊNCIA




“... os entregou a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, ao contrário da natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contacto natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens... (Rom 1: 26-27).

Fiz questão de destacar as expressões “paixões infames”, “modo natural de suas relações íntimas” “contrário da natureza” “torpeza” e “homens com homens” do trecho bíblico acima, extraído da epístola de Paulo aos Romanos, para tentar discorrer sobre o polêmico tema da naturalidade e/ou anti-naturalidade do sexo entre iguais (homossexualismo) à luz da ciência.

Segundo a bíblia o homossexualismo é uma paixão infame, contrária à natureza. A lógica por trás desta idéia é a de que o sexo serve exclusivamente para reprodução. “Crescei e multiplicai-vos” é a ordem de Deus. Com base nesta e mais uma meia dúzia de passagens bíblicas algumas pessoas se posicionam radicalmente contra a relação sexual entre iguais. Isto me levou a refletir sobre a questão e me deixou com uma dúvida cruel: o homossexualismo é ou não é natural? Tentemos definir o termo “natural”.

Filosoficamente falando o natural é aquilo que existe na Natureza. Impõe-se como algo a decifrar e a respeitar e opõe-se ao objeto do pensar. Nas palavras de Imanuel Kant “o natural é o auto-produzido, sem a intervenção (manipulação, desconstrução) humana”. Partindo desta definição podemos deduzir duas coisas (1) que as coisas relativas à cultura (entendida como a modificação da natureza pela intervenção humana através da técnica) não são naturais e (2) que aquilo que existe na natureza por si mesmo, como manifestação espontânea, é natural.

Agora pensemos o seguinte: se dentro da multiplicidade de animais e diversidade de comportamentos sexuais apresentados por eles conseguirmos perceber e registrar empiricamente a existência de comportamentos homossexuais, o que devemos concluir? Que são anti-naturais ou naturais?

As implicações das respostas às perguntas acima são muitas e vão depender de vários fatores, variando de pessoa para pessoa, de subjetividade para subjetividade. Então, abandonemos as opiniões e vamos aos fatos que ocorrem na natureza e que já foram registrados por vários cientistas.

1 – Os animais apresentam pelo menos 5 variedades de comportamentos homossexuais: cortejo, afeição, formação de casais, criação de filhotes e contato sexual.

O cortejo inclui todas as formas que os animais empregam para se exibir e conquistar parceiros. O pavão, por exemplo, para conquistar a fêmea exibe sua cauda. Mas não é só a fêmea que é atraída. Frequentemente, observa-se um macho exibindo a cauda para outro macho e, não raro, um dos dois termina montando o companheiro.

A afeição inclui beijos, esfregações e carinhos de toda ordem. Macacos bonobos de lábios colados e leões roçando a juba são demonstrações de afeto realizadas sempre antes ou depois de uma relação sexual.

A formação de casais homossexuais talvez seja a categoria mais surpreendente de todas. Mais de 70 espécies de aves realizam casamentos duradouros de indivíduos do mesmo sexo. Essas uniões também são adotadas por mamíferos. Leões e elefantes machos costumam formar laços mais duradouros que casais heterossexuais.

A criação de filhotes nem sempre envolve a dupla pai e mãe. O pássaro cantor (Wilsonia citrina), nativo da América Central, é uma espécie na qual um macho atrai o outro por meio do canto no início do período reprodutivo. Depois eles se juntam, constroem o ninho e cuidam dos ovos e das crias abandonadas por outros indivíduos.

O contato sexual propriamente dito dispensa maiores explicações.

Quando fiz o meu ensino médio os meus livros de biologia faziam questão de deixar claro que sexo serve para gerar descendentes e perpetuar as espécies. Então, como explicar as ligações entre fêmeas e fêmeas ou entre machos e machos que, evidentemente, não levam à procriação? A coisa fica ainda mais interessante – e complicada – quando se leva em consideração alguns outros dados relativos a comportamentos animais: em algumas comunidades de girafas de maioria masculina, as fêmeas disponíveis podem ser ignoradas pelos machos, que preferem a companhia de um igual. Em tese, esta constatação joga por terra a idéia de que o homossexualismo só ocorre quando falta opção. Outra teoria derrubada pelos recentes estudos na área foi a da ingenuidade animal. Vários estudos afirmam que, machos e fêmeas são tão parecidos que eles próprios chegam a se confundir. O galo-da-serra sempre foi citado como exemplo. Os zoólogos diziam que os machos copulavam entre si por não saberem distinguir a fêmea. Mas, em um estudo, um galo montou em apenas uma fêmea e em mais de 100 machos. Se ele não soubesse diferenciar um do outro, era de esperar que acertasse em metade das vezes, e não que errasse todas.

Um outro argumento é o da dominação. Um individuo mais importante cobriria o subalterno para deixar claro quem é que manda. Apesar da explicação servir para muitas espécies, para outras parece não servir. É o caso das morsas, onde os dominantes são montados pelos dominados.

Há um certo consenso entre os biólogos hoje em dia que nem sempre as espécies adquirem características vantajosas para a sua sobrevivência. Ao contrário, há diversos traços que parecem mais atrapalhar do que ajudar a evolução. Babuínos chegam a ser tão violentos com as fêmeas que as vezes as matam. Algumas aves chegam a defecar após o ato de cópula, o que parece ser um método anticoncepcional, já que expelem o sêmen que acabaram de receber. O infanticídio e o canibalismo de filhotes entre mamíferos são outros rituais difíceis de explicar. Quando se trata de sexo e relacionamentos homossexuais o que já se sabe é que algumas espécies faz o que faz porque gosta mesmo. Os mais marcantes são evidentes entre os macacos, cujas reações, por serem parecidas com as de humanos, são mais fáceis de avaliar. Fêmeas de várias espécies, inclusive de bonobos, parentes dos chimpanzés, chegam a ter orgasmo em relações homossexuais.

Diante de tantos fatos, evidenciados e catalogados por diferentes cientistas ao longo de anos de pesquisa, com critérios objetivos e métodos rigorosos, sobre o comportamento homossexual de vários animais, deixo meus leitores com mais uma pergunta: por que o homossexualismo entre humanos – que, afinal de contas, constituem apenas mais uma espécie animal – ainda continua a ser encarado como “paixão infame”, e “contrário à natureza”? Se o homossexualismo acontece naturalmente entre várias espécies animais, o mais lógico seria admitir os relacionamentos homossexuais entre humanos também como naturais. Anti-natural, ao meu ver, é o preconceito. Este sim deveria ser abolido, execrado e esquecido pela/da nossa sociedade. Mas, como bem disse Einstein: “triste época a nossa, é mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito”.

3 comentários:

socorro moreira disse...

Fico feliz com a tua presença !
Trouxestes um tema polêmico para alguns, bom de ser discutido, ainda !
Particularmente , sou espiritualista . Considero-me completamente livre de qualquer tipo de preconceito.
O amor é Senhor, e Deus é amor !
Não questiono o sexo dos anjos...
Respeito toda e qualquer opção sexual. Quando a gente é livre promove a liberdade do outro.

"Qualquer maneira de amor vale a pena !

Abraços .

Ei, traga mais textos...Todos são bem vindos !

Luiz Mario Alexandre disse...

Excelente texto, de fato não se sustenta afirmação que homossexualidade seria antinatural, creio que os que ainda defendem essa versão o fazem por interesse de manipulação, má fé.
Movimento de libertação do pensamento e dos costumes o fazem em busca da paz social de todos. O saber humano tem reiterado essa vocação pelo bem de todos.
Grande abraço

Prof. Júnior Lima disse...

Fico grato por ter agradado aos leitores aqui do blog. Um abraço!!