Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

sábado, 14 de novembro de 2009

Alice não mora mais aqui - por Glória Pinheiro


Bem, meus amigos, este "causo" que afirmo ser verdadeiro não aconteceu na roça e sim na cidade grande. Alguns nomes guardarei sigilo, por uma questão de prudência.
Vamos lá!

Para aliviar o cansaço do trabalho intenso, durante a semana, algum tempo atrás, Vicente costumava jogar futebol aos sábados. Acabava o jogo iam beber cerveja regada a uma conversa agradável. Enquanto isso eu ia ao Iguatemi ou a um salão de beleza. Geralmente Vicente retornava no início da tarde. Quando retornava lá vinham as novidades! Um dia passaram a jogar num campo de futebol de Rivelino; outro dia era um repóter da Globo, sempre a trazer novidades... Um dos amigos, - desde meados dos anos 70 - tinha sido presidente do CNPq, antes já havia presidido uma estatal no Chile, de Allende, um nordestino fanático por futebol, bastante espirituoso. Era daqueles que apreciava uma boa seresta, para isso, gostava de levar Luiz Vieira para cantar em sua casa. A turma era bastante amiga, unida e divertida.
..
Alice, mineira de Belo Horizonte, uma senhora já beirando 70 anos de idade, batalhadora, desde a época da Jovem Guarda, possuía seu salão de beleza à Rua Oscar Freire ao lado da Rua Augusta, maquiadora de algumas cantoras daquela época, mantinha boa amizade com a cantora Vanderléia, até então. Nos últimos quinze anos Alice transferiu seu salão para um sobrado conjugado e recuado numa rua mais simples, nem por isso perdeu a clientela de toda a família de um certo empresário, naquela época, presidente da FIESP. Alice tinha um coração do tamanho do mundo. Treinava muito bem suas funcionárias. Uma vez por ano costumava ir à Portugal, tinha por hábito levar uma ou outra funcionária para que melhorasse de vida naquele país. Uma delas com o casamento recentemente desfeito e muito breve, com a desilusão amorosa, resolvera aproveitar aquela oportunidade, esta era uma de suas melhores funcionárias, embora pouco importasse para Alice, levava mesmo assim e recomendava aos seus familiares, quando voltava para o Brasil a moça já estava empregada.
.
.
Por outro lado, Alice tinha verdadeiro pânico de assalto. Certa vez chegou um casal no salão, como a mulher, muito curiosa, fez algumas perguntas sobre o salão, no que se refere aos produtos e equipamentos já foi o suficiente para Alice, com a pulga atrás da orelha, sair na pontinha dos pés, dirigindo-se à casa ao lado. De lá, telefonou alertando que tivessem bastante cuidado que aqueles dois eram assaltantes. Ou seja, livrou sua pele numa boa sem com isso deixar de assustar quem recebeu a mensagem que por sua vez passou o "comunicado" adiante.
.
Certo sábado toca a campanhia um homem de camiseta, bermuda, uma pochete preta na cintura, cabeça abaixada procurando algo na pochete. Alice da janelinha da porta observando aquele movimento, pergunta se é um assalto e se o homem estava armado, quando escuta a confirmação. Nisso entra Alice toda esbaforida, correndo e muito agitada anunciando que o assaltante estava armado com um revólver. Querendo proteção e proteger a todos, mas sem saber o que fazer, embora a porta continuasse fechada.

.Naquele instante imaginei que o assaltante já estava na recepção, já havia dominado dona Catarina, a recepcionista sueca, muito amiga de Alice há mais de 40 anos. Quase pulei uma janela que dava para uma escadaria que levava ao porão da casa, no mínimo quebraria uma perna. Instante depois aparece Alice, dizendo: - Ahhhhh é o esposo da G l ó r i a, não reconheci... O susto foi grande e o alívio foi geral.
..
Em 1995 mudamos para os arredores de São Paulo, algum tempo passado, ainda retornei àquele salão aconchegante. Depois retornei, mas Alice estava viúva e resolveu juntar-se aos irmãos que vivem em Belo Horizonte. Desejo a você Alice, tudo o que for de melhor.

.
Por: Glória Pinheiro
(Postado também no Sanharol)
.

2 comentários:

Anônimo disse...

Glória, que bom que você postou aqui no Cariricaturas. Esse seu texto está muito bom. Dei boas gargalhadas.
Parabéns!

Abraços

Magali

Glória Pinheiro disse...

Obrigada, minha amiga! Uma mão segura a outra, não é? (Risos).