Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 11 de dezembro de 2010

Chacal- viajante de loucos pensamentos

Chacal,
viajante de loucos pensamentos

GILFRANCISCO

"pego a palavra no ar
no pulo raro
vejo aparo burilo
no papel reparo
e sigo compondo o verso"

Chacal

Ricardo de Carvalho Duarte, pseudônimo de Chacal, tido como um dos poetas marginais, encara o fato como algo normal, dada à forma inovadora e agressiva do nascimento de sua poesia no início dos anos 70. Integrante da geração mimeógrafo, seus livros, de mão em mão, rodaram o Brasil. Com seus ingredientes próprios de lirismo e humor, Chacal publicou mais de 13 livros. Carioca de Copacabana (Rio de Janeiro), nasceu em 24 de maio de 1951, filho de Marcial Galdino Duarte e Maria Magdalena de Carvalho Duarte, Chacal tem dois filhos, João Vicente e Júlio Trindade.
Chacal sempre gostou de ler e escrever, mas aos vinte anos descobriu a poesia de Oswald de Andrade e percebeu que gostava realmente de poesia. "Até então, eu achava a poesia uma coisa muito dura, muito fechada e triste. Me refiro a essa poesia que é dada em escola, essa coisa mais parnasiana, que não tinha a ver com meu mundo e minha vida". Com a leitura de Oswald foi incentivado a publicar seu primeiro "Muito Prazer, Ricardo" (1971) livro mimeografado, com 100 cópias. O seguinte foi "Preço da Passagem" (1972), 1000 exemplares, com 34 folhas mimeografadas dentro de um envelope. É desse período a redescoberta da oralidade da poesia, uma forma barata e imediata de apresentação de um texto. Grandes happenings poéticos chamados Artimanhas foram realizados nesse período no Rio de Janeiro e pelo Brasil através do grupo Nuvem Cigana.
Chacal por quase dois anos trabalhou com o Grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone, integrado por Evandro Mesquita, Patrícia Travassos, Luiz Fernando Guimarães, Regina Case e outros. Para o grupo escreveu seu primeiro texto teatral, Alguns anos-luz Além, uma parábola sobre o sectarismo, mas acabou sendo montada pelo Lua me dá Colo, grupo dirigido por Ricardo Wadington. Sua passagem pelo Asdrúbal foi muito importante para sua formação poética, viajando por várias cidades do Brasil, inclusive do nordeste, ele observa a linguagem do povo nordestino o que fez ampliar seu horizonte poético.
Reconhecido no universo cultural brasileiro, o poeta Chacal usa a palavra como instrumento verbal para denunciar o cotidiano da barbárie, sempre recorrendo ao humor e à metalinguagem. Em seu processo criativo é raro o poeta trabalhar a palavra, por entender que o poema tem uma estrutura inconsciente. O processo é espontâneo, dentro de uma linha surrealista, desenvolve-se no inconsciente e aflora em sua "anatomia". Cronista, letrista, autor de teatro e, sobretudo, poeta, Chacal caminha pela poesia antropofágica herdade do mestre Oswald de Andrade. "Acho que o poema não tem que ter modelos preestabelecidos. Têm pessoas que só trabalham daquele jeito e são ótimos, têm que ter forma, métrica, aquela grade para se soltar na formalização. Eu acho que o poema sabe de si. Vem de uma forma ou de outra, mas vem".

Papo de Índio

veiu uns ômi de saia preta
cheiu di caxinha e pó branco
qui eles disserum qui chamava açucrí.
aí eles falarum e nós fechamu a cara.
depois eles arrepetirum e nós fechamu o corpo.
aí eles insistirum e nós comemu eles.

Fogo-fátuo

ela é uma mina versátil
o seu mal é ser muito volúvel
apesar do seu jeito volátil
nosso caso anda meio insolúvel

se ela veste seu manto diáfano
sai de noite e só volta de dia
eu escuto os cantores de ébano
e espero ela chegar da orgia

ela pensa que eu sou fogo-fátuo
que me esquenta em banho-maria
se estouro sou pior que o átomo
ainda afogo essa nega na pia

(letra: Chacal - música: Moraes Moreira)

*Jornalista, pesquisador e professor universitário
gilfrancisco.santos@ig.com.br

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