Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Jacob do Bandolim e o Época de Ouro



No final dos anos 50, Jacob ainda gravava com o Regional do Canhoto, mas tinham dificuldades de se reunir para ensaiar em função da agenda lotada do grupo que era disputado por todos os grandes cantores. A última participação do Regional do Canhoto com Jacob foi no LP "NA RODA DE CHORO", gravado em março de 1960. Na sua concepção, Jacob necessitava de um grupo de músicos que o acompanhasse e que com ele se reunisse quando necessário. O novo grupo de músicos, criado ao seu feitio e com o caráter de grupo exclusivo, participava regularmente dos saraus realizados aos sábados em Jacarepaguá é era formado por DINO 7 CORDAS, CÉSAR FARIA e CARLOS LEITE (violões), JONAS SILVA (cavaquinho) e GILBERTO D’ÁVILA (pandeiro).

Com eles, Jacob gravou dois LP`s, “CHORINHOS e CHORÕES” (1961) e “PRIMAS e BORDÕES” (1962), com os nomes de Jacob e seu Regional e Jacob e seus Chorões, respectivamente. Em 1966, Jacob, que afirmava já ter ultrapassado a fase "regional" batizou esse grupo com o nome de CONJUNTO ÉPOCA DE OURO, gravando com eles o LP “VIBRAÇÕES (1967), com a participação de JORGE JOSE DA SILVA, o “Jorginho do Pandeiro" e o lendário show com ELIZETH CARDOSO e o ZIMBO TRIO, no Teatro JOÃO CAETANO (1968)”.

Uma curiosidade é que três dos cinco integrantes ÉPOCA DE OURO, à exemplo de Jacob, além de excelentes músicos, eram também funcionários públicos: César tornou-se Oficial de Justiça; Carlinhos era Agente Fiscal e Jonas, funcionário público em Niterói, o que certamente lhes permitia um maior contato com Jacob.



Jacob através do tempo


A obra de Jacob do Bandolim transcendeu em muito os limites da Rádio Guanabara, onde começou em 1934, com o conjunto Jacob e Sua Gente.

Anos se passaram, seus discos foram lançados, viajaram e foram sendo relançados no Japão, nos EUA. Músicos mundo afora veneram e interpretam seu repertório, seja na França, Venezuela, Egito, Rússia e Portugal, redesenhando as reais fronteiras da obra do nosso primo das cordas.

O pianista concertista russo Serguei Dorenski, que esteve em Jacarepaguá, na casa de Jacob, na década de 60, assistindo aos saraus que lá eram realizados, ao retornar a Moscou, ainda desconcertado, encontrou-se com Arthur Moreira Lima que por lá estudava piano e relatou o que vivera naquelas horas no reduto de Jacarepaguá. Arthur se comprometeu, então, em fazer chegar às mãos de Dorenski, os discos de Jacob.

Meses depois, em plena Moscou, um chorão carioca, o arquiteto e promotor cultural Alfredo Britto entrega ao pianista russo uma coleção de LP's de Jacob. Em poucos dias, a Rádio Moscou transmitia programas sobre um gênero desconhecido e distante, o Choro, apresentando um virtuoso interprete, que tirava sons incríveis de um instrumento que lembrava a balalaika, espécie de bandolim russo, de nome complicado de se pronunciar - Jacob do Bandolim. Assim, é obra de Jacob, sem fronteiras.

Em 2001, o MIS/RJ lançou, um CD multimídia, Com Jacob, Sem Jacob, pioneira experiência de registrar para os amantes da boa música, particularmente, para os distantes fãs que não podem freqüentar o Arquivo do Jacob, um pouco da sua obra doméstica, sons e curiosidades do seu cotidiano, seus requintados saraus e imagens do seu dia a dia, itens indispensáveis ao necessário e insubstituível culto que um fã devota ao seu ídolo, ou que um estudioso dedica a sua tese.

Jacob sempre perseguiu a perfeição da execução e a excelência na preservação da nossa música, sem, contudo ser um conservador. Municiava-se de recursos tecnológicos de ponta à época (anos 50), para obter resultados inovadores, na busca de novas sonoridades, ou para melhorar o registro de seus arquivos. Foi assim ao inventar instrumentos musicais, como o vibraplex (violão tenor ligado a um órgão Hammond), onde obteve um som parecido com os atuais sintetizados.

Da mesma forma, quando estudou, à fundo, a arte fotográfica, para poder microfilmar suas partituras, pois arquivos físicos não lhe bastavam, em se tratando de milhares de partituras a serem preservadas.

Hoje, são raras as rodas de choro onde não se ouvem as cordas de um bandolim, são raros os bandolinistas que não tem em Jacob sua referência musical e, principalmente, é raro o país que teve o privilégio de ter tido um Jacob do Bandolim.


Fontes bibliográficas:
Arquivos do próprio autor,

depoimentos de Déo Rian, Elena Bittencourt, César Faria,

Jacob do Bandolim / Ermelinda de Azevedo Paz , Rio, Funarte, 1997,

O Choro: do Quintal ao Municipal / Henrique Cazes, São Paulo, Editora 34, 1998.


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