Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 9 de agosto de 2009

O GÊNERO NO DIAS DOS PAIS

Esperava a badalada das doze horas para postar este texto aos pais. Tão esdrúxula espera devia-se não ao amor pelos pais, mas um chute no patriarcado. Um chute em tantas coisas que sabemos superáveis, mas estão como verrugas em nosso comportamento. Por exemplo aquele em que, por exemplo, fundiu a palavra pai efetivamente a uma questão de gênero.

Então, logo de cara falo de Tereza, Maria Gisélia, Amélia Teles, Leonarda Arraes e tantas mulheres que sabem do mundo masculino. Mundo, diga-se em definitivo, estruturado sobre o mito de Deus. Examinem os Gregos e existem deuses e deusas, até mesmo a traição à Zeus é fato. O feminino e o masculino fazem parte da ordem geral do universo.

Já na tradição Judaica, Deus é masculino. Mais que isso, Deus é O Senhor, ou melhor, é superior. Já de cara o mito masculino, que é o mesmo de pai (Pai Nosso que estais no céu....) se implanta de tal modo na hierarquia, pois é esse Pai Eterno que cria todas as coisas. O Criador também só pode ser compreendido pelo trabalho. Em outras palavras Deus não tem um passado para nós, só o compreendemos a partir do momento da execução da tarefa da criação pelos dias de trabalho e folga de descanso.

O pai superior, criador e trabalhador se assenta na ordem geral das pessoas de modo a reproduzir hierarquias na família e em toda a sociedade. Os reis, os filósofos, os sábios e todo aquele substantivo que queiramos hierarquizar fazem parte dessa maneira de compreender o movimento do mundo e da vida como uma generalidade maior ainda.

Por isso à mulher cabe-lhe o papel secundário. Ao filho também, o de sofrer, mesmo quando um “filho” que também é Deus, é personagem do dissabor da contestação, da incompreensão dos outros e da punição na cruz. Mesmo entre os filhos, o gênero se divide conforme a ordem primordial do mito masculino.

Podemos amar a Maria. Termos a doçura das noites acalentadas. A proteção dos ermos improváveis. Maria até o limite do sofrimento do filho, que é Deus e simultaneamente o Espírito Santo. Termos Maria como parte da criação, jamais no limiar em que esta se decide.

Enfim não me quero passar com azedume por apenas este dia dos pais. Tantas emoções verdadeiras e definitivas tratam desta ponte em que se diz pai (ou mãe) e já dizemos filhos e netos sem ao menos respirar. Não é para chocar este ambiente de homenagens. É apenas para não deixar passar.

Não deixar de pensar que a mitologia não se presta apenas para estudar as velhas civilizações ou a diferença das culturas primitivas. Ela nos explica como somos agora. Ela nos oferece a possibilidade de ousarmos uma pequena margem de desconforto ao pensarmos nela.

Um comentário:

socorro moreira disse...

Hoje falamos tanto de pais . Amanhã continuaremos a falar de pais .mitos e filhos.

Boa noite, meu amigo.