Onze e vinte e três
Aquele homem
Que atravessa a faixa de pedestre
Tem um espelho fixado na alma
Ele atravessa o tempo
Sondando o que permanece
E se consterna com a não existência
Os carros resfolegam
Repousando a compactação dos ferros
Sobre a ambigüidade do asfalto
Dos seus bolsos caem
Todas as letras do alfabeto e outras
Inventadas ainda na grande noite
Como rastros elas
Procriam esfinges que procriam
Enigmas que procriam disjunções
Ele vai descer a São Pedro
Vai subir a São Francisco e pegar a
Todos os Santos e vai chegar aos céus
Lá ele dirá que
O seu maior pecado foi sentir prazer
Vendo sua mulher em sodomia com outro
Lá ele receberá
Como fardo ordenhar as locomotivas
E decifrar a profecia dos trilhos
Eis que ele passa
Carregado de reflexos e fuligens
Arando a sua prematura inocência
Um comentário:
Leonel, você é locomotiva, e sabe decifrar o enigma dos trilhos com a sua poesia.
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