Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 22 de setembro de 2009

A FÉ QUE ABANDONAMOS


Inicío esse texto pensando em K. Marx. Ele afirmou: “Não é a religião quem faz o homem, mas o homem quem faz a religião. A religião é a consciênci de si que o homem perdeu ou não adquiriu ainda...A falta da verdadeira religião é o ópio do povo”. Fé e religião estão associados. O que é mais difícil na interpretação de um texto é compreender o contexto que o autor está querendo se referir. O mais fácil é distorcê-lo e divulgar a distorção como se fosse a própria verdade do autor. Existem muitas interpretações e também muitas distorções. Sem dúvida, não existe verdade maior do que aquela que nasce das camadas profundas da fé intuitiva, e por isso mesmo é indizível e intransferível. O original é a própria essência criadora que se manifesta sutilmente na consciência de cada ser humano. Creio que foi o próprio Marx quem afirmou que a tarefa da ciência era distinguir a essência da aparência. E que sem esse trabalho de separação, a ciência perdia a sua função de ser.

Mas A . EINSTEIN, que foi considerado o maior cientista do século XX, afirmou: “Estudem a fé”. O problema da verdade da fé era um norte de Descarte na busca da compreensão das verdades das coisas. E foi nesse caminho que Descartes aperfeiçoou o método científico. Ele mesmo afirmou que no início de sua busca ele não tinha a intenção de descobrir método algum, mas apenas revelar para si o mistério da verdade da fé. No final de sua busca nos mostrou o caminho que fez sintetizado no famoso método científico e relatado no também famoso livro Discurso sobre o Método.

Nesse sentido, a fé também está presente na ciência e foi a convicção nela, que muitos cientistas fizeram as suas grandes descobertas. A questão básica é essa: “Em qual fé esses homens se apoiaram para nos mostrarem a beleza de uma realidade invisível para os nossos olhos leigos e despreparados”. Isacc Newton não era ateu. Ele era místico também. Certamente aprendeu a ouvir a sua fé-intuitiva. Assim, o que se pode perceber que todos os homens (religiosos, cientistas ou místicos) que ajudaram a humanidade a dar um salto de consciência dos fenômenos físicos e metafísicos, de alguma forma aprenderam a separar e distinguir a fé aparente da fé essencial.

A fé aparente é a crença doxológica, ou seja, a crença comum baseada na cultura e nos modelos psicológicos impostos pela sociedade. A fé essencial é uma convicção profunda numa consciência que surge milagrosamente e inesperadamente em cada um. O próprio Cristo nos alertou quando afirmou: “Eu retornarei como um ladrão”. É algo que apanha cada um de surpresa. É o inesperado e portanto iluminado e grande em nós. Raros são os homens que conseguem desenvolver a fé essencial. A maioria se agarra à fé aparente e por isso sofrem as conseqüências do mundo das sugestões e crenças infundadas. A fé essencial é algo nobre que se revela no caráter das pessoas.

Segundo ELLWOOD (1999): “A fé [essencial] não permite nenhuma discriminação ou injustiça, entre seus membros ou na sociedade, com base em credo, raça, sexo, orientação sexual, nível de escolariedade, riqueza ou pobreza relativas. Para cumprir esse ideal, todo cristão deveria ter um compromisso contínuo com o importante trabalho voluntário e não-remunerado, e deveria tentar ser um pacíficador sempre que possível” (p.32) .

Nenhum homem vive numa ilha pois é parte de um imenso continente humano. E a missão de cada um é revelar a beleza da fé essencial nas relações humanas. Infelizmente o mundo moderno deixou-a de praticar. A mística Alice Bayle afirmou: “O homem é um ponto de luz divina, envolto por numerosos envoltórios, como uma luz escondida numa lanterna. Esta lanterna pode ser fechada e escura, ou aberta e radiante. Tanto pode ser uma luz brilhante diante dos olhos dos homens, como uma coisa oculta, sem utilidade para os demais” (BAILEY, Alice A. Do Intelecto à Intuição. Niterói-RJ: Fundação Cultural Avatar, 1984).
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ELWOOD, Robert. “A Ética Cristã”. Revista Planeta. Edição 324 – Ano 27 – No 9 – Set.99.

2 comentários:

socorro moreira disse...

Esse texto e o pensamento do dia vieram a clhar. Tenho pouca fé , mas tenho fé !
Talvez a minha seja um tanto abandonada.

Entendi muito bem aquilo que o Marx quis dizer, e concordo com ele.

Os seus textos ocupam uma lacuna em mim. Gracias.

Bernardo Melgaco disse...

Obrigado!

Abraço.