(Informações pautadas na memória de uma menina, que apenas nasceu naquela rua, e passeou suas alpercatas nas calçadas. Imprecisão histórica... O resumo de uma verdade ilimitada!).
Antes da Pedra Lavrada, eu nasci nas Laranjeiras, hoje José Carvalho.
No mesmo pedaço, onde morava Zé Cirilo, Salvina, os Libório, os Parente, os Cardoso, e onde ficava o Círculo Operário (que virou Escola, Cinema, salão de eventos, acolhendo discussões de base política social).
A rua começava com a Padaria de Seu Cirilo. Lá a gente escolhia o pão sovado ou aguado. Comíamos com nata batida do mais puro leite de vaca. Encostada à padaria viviam os seus familiares: Zenira, Zenilda, Zildenir, Francisco José (que foi meu colega no Instituto S.Vicente Férrer). Naquele Instituto, Zenira deu uma das suas grandes contribuições educacional. Tinha uma energia linda, vibrante, artística! Gritava as nossas quadrilhas de S.João de uma forma inconfundível. Mudou tão pouco ao longo dos anos...
-É a mesma Zenira!
Numa das casas seguintes, Gilvanda, primeira esposa do Compadre Zé Cirilo (como o chamava meus pais), criava a sua prole. Tia Fantina (irmã da minha avó Donana) e Gilvanda reinava na organização da casa. Zé Sérvio, Grijalva, Eugenia, João Antonio e Jorge já haviam nascido. Gilvanda confeitava os nossos bolos de aniversário. Sua casa tinha gosto de festa: limão glacê! Zé Cirilo entendia tudo de eletrônica, e trabalhava na Rádio Educadora, desde a sua fundação.
Mais na frente, a casa de Mário Oliveira (o dono do Cine Cassino) casado com Mildred, filha de Tia Fausta. Casa glamurosa. Mildred trazia das telas de Hollyood o astral do cinema. Tia Fausta era apaixonada por perfumes franceses, e tinha uma bela coleção em miniaturas. Foi lá que Miriam Magda completou seus 15 anos. Uma festa de arromba, que eu não tive o prazer de comparecer, pela pouca idade (menos de 15 anos). Mas eu assisti do meu jeito...!
Na mesma calçada, os Libórios. Salete, a musa maior: atriz e bailarina!
Parede com parede, o salão de beleza de Dona Estela Parente. Freqüentei aquele espaço, pela primeira vez, quando contava quatro anos. Cismei de cortar os meus dóceis cachos, irrefletidamente... E ficou horrível! Minha mãe pegou-me pelo braço, e conduziu-me até lá. Frisaram meu cabelo para consertar o estrago. Sai de cara redonda, cabelos curtíssimos, apipocados e com cheiro de queimado. Perdi naquele dia qualquer possibilidade de beleza romana, até os nossos dias. Na extensão do salão, a residência dos Bragas. Que menina da época não namorou com um deles? Ésio, Helder, Élcio, Hélio... Nem eu, escapei à regra!
Em frente morava Marta de Salvina.
Salvina, a mãe de metade das crianças, que vinham ao mundo, no Crato. Foi enfermeira do Dr. Gesteira e muito com ele aprendera!
Atravessando a rua, tinha (e ainda hoje existe) a ourivesaria do Seu Teophisto Abah. Grande artesão, amigo do meu avô Alfredo Moreira Maia (primo de Emília Moreira - avó da minha amiga Magali) e do Sr. Júlio Saraiva. Dizem as boas línguas que não existiam homens tão íntegros e habilidosos, quantos aqueles três. Era um trio famoso!
Na seqüência, os fundos do Moderno, propriedade de Seu Macário, por onde escorria meio mundo de pessoas, depois das sessões de cinema. A casa de Tia Pigusta (modista famosa), os Brizenos, os Duartes, Seu Euclides Lima Barros e Dona Nenê. Ali, Hamilton se achava!
No mesmo cinturão, a casa de Dedé França, Zeba, Dona Zélia (mãe de Nilo Sérgio), e a Sub-Estação, que gerava energia elétrica para toda a cidade (antes da luz de Paulo Afonso).
No quarteirão seguinte, depois do Beco de PE. Lauro, a sanfona genial de Hildelito Parente e um monte de irmãos: mais novos mais velhos e da minha idade!
Uma pequena concentração do Honor e Brito...
O casarão de Seu Pergentino (Pai de Dr. Eldon Cariri, Dona Eunir (mãe da Bela Piinha))
Do outro lado da calçada, a casa de Salgado, que nos assustava com seus vôos acrobáticos... Um dia a morte o assustou... Mas, pra que lembrar coisas tristes?
E a minha doce Mãe Candinha?
Quem nunca provou da chupeta de umburana e mel de abelha, que naquela casa vendia? Pois aquelas mulheres eram minha bisavó e minhas tias: Amália e Rosália. Lá tinha um papagaio que falava e repetia tudo que dizíamos.
“Tem café, minha Rosa”? Era o verdinho, imitando a voz de Vicente Cordeiro, meu tio por afinidade... Cego na velhice, mas compensado por um ouvido privilegiado. Tocava acordeom, gaita, realejo... e disso, eu também gostava!
Depois, a rua assumia outro nome...
Com preguiça não chego nesta carreira, na casa de Edméia Arraes...
-É outra circunferência, como diria meu amigo Blandino!
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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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6 comentários:
menina do Crato
Leitura cheia de nomes que lhe surgem da memória como luzes que ficaram a brilhar. As alpercatas ainda pisam as calçadas do passado presente, tanto conteúdo que se atropelam entre tantos relatos e nomes. Memória brilhante !
Essa é a nossa colibri com quem gostamos de viajar nas lembranças...
Ainda estou muito envolvida nas artes plásticas mas dou uma olhada de vez em quando e agora não contive este comentário.
Saudades...
Beijo !
Mas Edilma, estávamos morrendo de saudades de ti.
Fique longe não... A vida é curta e a gente faz parte de um presente.
Abraços
Acabei de receber a visita de Miriam Magda. Ela vai entrar para o time dos colaboradores.
Quando virás novamente ? A gente vive te esperando !
Claude chega dia 2 ...
Beijo
Socorro,
Não me canso de admirar a sua memória e além do mais, é uma alegria lembrar das pessoas que fizeram parte da nossa infância.
Abraços
Socorro,
Viajeiiiiiii..Adorei o texto e sua boa memória.
Abração:Liduina.
Liduína e Magali,
A terra e a memória são nossas.O tempo passa, as pessoas também... A rua fica.Muda a personalidade física , mas o lugar é definitivo.Eu sempre acho que o tempo não existe. Foi ontem, ainda é hoje ...Não quero admitir que o futuro chegou.Mas quando viajo para o passado , descubro que tudo mudou.
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