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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Por causa do inglês, estão usando plural demais em casos desnecessários

Josué Machado

No terrível caso da queda do avião em Congonhas, jornais, revistas e locutores anunciaram "as mortes" de 199 pessoas.

No de outra forma terrível caso von Richthofen, também revelaram "as mortes" de Manfred e Marísia, assassinados com a ajuda da filha, Suzane. Por que "as mortes"?

Em relação a esse crime, registraram também "as posições dos corpos". Por que "as posições"? A polícia investigou "as identidades" dos autores crime. Por que "as identidades"? No futebol, por que se diz que o juiz espera "as substituições" de Elano e de Robinho?

Seria bom lembrar que esse plural indevido não costuma ser usado por bons autores porque não se justifica em português, embora exista em latim. Mesmo assim, de vez em quando se notam sinais dele por aqui, provavelmente por influência do onipresente inglês, que o herdou do latim.

Sem perturbações

Exemplos em jornais e revistas:

"... são problemas que não causam perturbações nos espíritos das gerações seguintes."

"... Patrícia Pillar e José Wilker garantiram suas participações ao vivo..."

"Foram quase quatro anos de nossas vidas."

"O filme Casablanca teve as participações antológicas de Humphrey Bogart e Ingrid Bergman..."

Teriam sido melhores e indiscutíveis as seguintes formas:

"O acidente provocou a morte (não 'as mortes') de 199 pessoas."

"A polícia investigou a morte (não 'as mortes') de Manfred e Marísia."

"A posição (não 'as posições' dos corpos indicavam) dos corpos indicava..."

"Investiga-se a identidade (não 'as identidades') dos facínoras."

"Lula recebeu a visita (não 'as visitas') e o apoio (não 'os apoios') desinteressados de Kércia e Calheiros."

"Duplo suicídio foi a causa da morte (não 'das mortes') de PC Farias e da namorada Susana."

"... são problemas que não causam perturbação (não 'perturbações') no espírito (não 'nos espíritos') das gerações seguintes."

"... Patrícia e José... garantiram a participação (não 'suas participações')..."

"Foram quase quatro anos de nossa vida (não de 'nossas vidas')."

"O filme Casablanca teve a participação (não 'as participações') antológica de Humphrey Bogart e Ingrid Bergman".

"Dez milhões de pessoas já perderam o emprego (não 'os empregos') por causa da política econômica do governo."
"Com a saída (não 'as saídas') de José Dirceu e Luiz Gushiken do governo..."

"A direção da empresa colocou uma pessoa no lugar (não 'nos lugares') das três despedidas."

"O povo espera a volta (não 'as voltas') de Collor e de sua senhora para carregá-los nos ombros."

Latinidades

Em latim é que o nome da coisa possuída costuma ir para o plural quando há mais de um possuidor. Isso ocorre principalmente quando a coisa possuída representa dom, qualidade, tem certo caráter espiritual ou é parte singular do corpo ou do ser: nariz, cabeça, testa, pescoço, fígado, coração, mente, alma, espírito etc.
"Entreguemos as almas a Deus", se escreveria em latim.

Em português:

"Entreguemos a alma a Deus." (Mesmo sendo várias as pobres almas; se forem do Congresso, desconfia-se de que dificilmente haverá salvação.)
Exemplo em latim, referente às palavras da missa que precedem a elevação para inspirar sentimentos excelsos:

"Sursum corda habemus."
Tradução literal: "Elevemos os corações para o alto."
Sursum = para o alto, ao alto.
Corda = os corações.
Habemus = temos, no sentido de elevemos.

Embora possa haver controvérsias, em boa tradução, elimina-se o plural:
"Elevemos o coração para o alto."

Nariz japonês

O inglês, no entanto, como o latim, tem a peculiaridade de que dois ou mais possuidores levam a coisa possuída para o plural. E é provavelmente do inglês que chega a influência ao português:

"The Japanese's noses are small."

Literalmente:

Os narizes dos japoneses são pequenos."
Em português inatacável, à prova de examinadores rigorosos:
"O nariz dos japoneses é pequeno." Sim, o nariz.

Convém repetir: em português, o plural latino/anglicista não prosperou. Cá entre nós, a coisa, propriedade (alma, nariz, coração, seja o que for) dos exemplos alienígenas que se refere a mais de um sujeito (nós, japoneses, etc.), fica no singular abrangente e suficiente.

Um exemplo de interesse mais nacional e carnavalesco, como descreveu corretamente o narrador de carnavais mulatosos, com todo respeito: "Elas passaram baloiçando a bunda".

http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?

2 comentários:

rogerio silva disse...

Muito boa essas dicas, às vezes a gente se perde um pouco com o nosso português e com a influência de lugares, sotaques e dialetos. Sem falar na internet... Valeu!!!

Claude Bloc disse...

Rogério,

Seja sempre bem vindo. Espero que a infroamação lhe tenha sido útil.

Abraço,

Claude