Canto XLVI de “Cem sonetos de Amor”
Pablo Neruda
Das estrelas que admirei, molhadas
por rios e rocios diferentes,
eu não escolhi senão a que eu amava
e desde então durmo com a noite.
Da onda, uma onda e outra onda,
verde mar, verde frio, ramo verde,
eu não escolhi senão uma só onda:
a onda indivisível de teu corpo.
Todas as gotas, todas as raízes,
todos os fios da luz vieram,
vieram-me ver tarde ou cedo.
Eu quis para mim tua cabeleira.
E de todos os dons de minha pátria
só escolhi teu coração selvagem.
AMOR ETERNO
Shakespeare
Impedimentos não admito para a união
de corações fiéis: amor não é amor
quando se altera ao perceber alteração
ou cede em desertar quando o outro é desertor.
Oh! Não, ele é um farol imóvel tempo em fora
que as tempestades olha e nem sequer trepida;
é a estrela para as naus, cujo valor se ignora,
mau grado seja a sua altura conhecida,
O amor não é joguete em mãos do tempo, embora
face e lábios de rosa a curva foice abata;
não muda em dias, não termina numa hora,
porém, até o final das eras se dilata.
Se isto for erro e o meu engano for provado
Jamais terei escrito e alguém terá amado.
SONETO DE RENDIÇÃO
Sandra Pimentel
Ah, amor, enquanto se é humano
não se pode chegar ao bem divino,
contentar-se urge com o destino
de tecer o sacro em tear profano.
Não nego, amo-te tanto e tanto
que me entrego errante aos sentidos
de nossos corpos já tão confundidos
como de Orfeu a lira e o doce canto.
Se o amor é humano enquanto carne
e o humano é divino enquanto amor,
a carne é sinal de divindade.
Por isso nos beijemos sem pudor,
numa ânsia que embriague, que nos farte,
já que a eternidade é puro amor.
2 comentários:
Maravilha de seleção, Bisaflor !Vamos aproveitar a divina carne humana, cheia de alma !
Ontem estive com Ismênia. Sua orelha não pegou fogo ?
Abraços.
Socorro: ah, vocês só falaram coisas boas de mim (kkkkk)por isso a orelha nem esquentou...
Quanto aos poemas, hum... são belos! Na próxima sexta tem mais.
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