(Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira (nasceu dia 10 de setembro de 1930, em São Luis, Maranhão, Brasil); poeta brasileiro.
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Ferreira Gullar
2 comentários:
Socorro,
Sinto-me traduzir-me nas palavras de Ferreira Gullar. Não uma parte de mim, mas o todo.
Abraço,
Claude
Bem, a meu ver, Gullar não trata de si neste poema, ou melhor, estas palavras podem ser entendidas em uma outra perspectiva, indo além de uma auto definição. Se nós na humanidade como o 'eu' de traduzir-se, teremos um grito contra toda a disparidade social imposta pelo capitalismo. Existiria assim uma parte que é todo mudo e outra parte dos homens que não são ninguem; e aí teriamos uma série de antinomias - multidão e solidão; ponderação e delirio;alimentar-se e deixar-se espantar pelo não alimentar-se; permanecer e esvair-se; vertigem e linuagem; vida e morte.
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