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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

As Histórias dos Outros: III - Locutores – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Já vai longe a fase de ouro do rádio, onde os locutores tinham uma bela voz, leitura corretíssima, dicção e entonação perfeitas. Cresci escutando as rádios do Rio e São Paulo e invejava as vozes de Oduvaldo Cozzi, Jorge Cury, Carlos Frias, Luis Jatobá, Heron Domingues, César de Alencar e tantos outros. Às vezes me surpreendia sonhando ser um locutor famoso. Em fevereiro de 1967, eu estive perto desse sonho. Enquanto aguardava o resultado do vestibular, ouvi um anúncio na Rádio Cultura da Bahia, que aquela emissora estava realizando testes para novos locutores. Não pensei duas vezes: fiz minha inscrição e na mesma hora, o diretor da rádio me mandou fazer uma redação. Meio nervoso e suando muito, passei quase uma hora para escrever sobre o massacre que era o vestibular para os estudantes. Apavorei-me com uma velha máquina remington, cujas teclas saltavam algumas letras, quando tocadas com mais força, obrigando-me a reiniciar o trabalho várias vezes. Para minha surpresa, fui aprovado no teste de redação, devendo comparecer no dia seguinte para o exame de locução. Acontece que entre um dia e outro, o resultado do vestibular saiu e eu já me sentindo engenheiro, desisti de ser locutor, trocando um sonho por outro maior, assim pensava então. Ainda hoje, eu acredito firmemente que a radiofonia baiana nada perdeu com essa minha decisão.

Sonhos de locutores são muitos. O jornalista cratense Osvaldo Alves de Sousa, em seu livro “Tipos e Ditos Populares do Crato de ontem e de hoje”, à página 80, nos revela duas histórias de jovens que sonhavam em ser locutores da Rádio Araripe do Crato.

Segundo Osvaldo, o saudoso Elói Teles era muito assediado pelo soldado Saraiva que desejava ser locutor. Para se ver livre, Eloi disse ao militar que se ele conseguisse dois milhões de cruzeiros de patrocínio, teria a grande chance de ser locutor. Naquela época, essa era uma tarefa tida como impossível até para os mais experientes publicitários. Para surpresa do “Seu Elóia”, menos de oito dias depois, o soldado Saraiva chegou com os contratos de publicidades perfazendo o total da quantia estipulada. Imediatamente “Seu Elóia” marcou a estréia do policial para cinco horas da tarde daquele mesmo dia, um domingo, num programa cujo título era “Sambão e Zebrão”, que misturava diversos tipos de sambas com os resultados do futebol. Ao iniciar o programa, eis que chega a notícia da morte do papa Paulo VI. E o nosso Saraiva manda ao ar essa pérola de noticia: “Atenção Crato! Alô Brasiiiil! Deu zebra no Vaticano! Acaba de morrer agorinha mesmo o Papa Dom Paulo Meia Dúzia!”
Ao ser indagado se Elói ouvira o “furo” que o Saraiva tinha dado, assim respondeu o então diretor daquela emissora: “Furo uma ova! Aquilo foi um arrombamento! (1)

Mazim era um funcionário da Radio Araripe que também sonhava ser locutor. Era continuo e depois controlista. De tanto insistir para ser promovido a locutor, o gerente da rádio autorizou que ele entrasse no ar sempre que estivesse na rua e acontecesse alguma notícia, algum fato de interessasse da população. Nesse mesmo dia, ao se aproximar de sua residência, Mazim avistou uma grande multidão na frente da sua casa e das vizinhas. Ao se inteirar do que ocorrera, anotou tudo numa cadernetinha e correu para um telefone público. “Tenho uma notícia importante e urgente, por favor, me bota aí no ar agora mesmo!” Disse Mazim para o locutor do horário. Ao ser atendido, mandou brasa: “Senhoras e senhores, acaba de ocorrer um suicídio aqui no bairro do Seminário. O pedreiro José Antonio da Silva acaba de dar um tiro no peito, pondo fim à sua própria vida. Esta foi sua terceira tentativa. Antes ele cortou os pulsos, mas atendido às pressas no Hospital São Francisco se recuperou. Meses depois ele ingeriu dezenas de caixas de comprimidos de melhoral, mas os médicos fizeram uma lavagem estomacal e salvaram sua vida. Agora, senhoras e senhores, Zé Antonio morreu mesmo, realizando seu grande sonho! Um tiro no peito, foi êxito total!”(2)

Mazim obteve também êxito total na sua tentativa de se tornar locutor e hoje aposentado é o conhecido radialista Luzimar Rodrigues Leite.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

NOTAS: 1 e 2: Adaptados de “Tipos e Ditos Populares do Crato de Ontem e de Hoje” de Osvaldo Alves de Sousa,páginas 80 e 81-Editora Moderna, Crato – CE, 2000

2 comentários:

Claude Bloc disse...

Carlos Eduardo,,

Gosto de te ler. Tuas histórias são sempre detalhadas e nos fazem viver a ambiência e "visualizar" as cenas. Outra coisa que é importante é o humor que proporcina prazer em ler.

Abraço,

Claude

Devia também contar as histórias que Henrique contou em tua casa, sobre as "pescas" no Diocesano.

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

Prezada Claude

Obrigado por suas palavras de incentivo. Quanto as histórias do amigo Henrique, elas são tão ricas de detalhes que, acredito não ser capaz de transmitir aquele sabor que somente ele sabe proporcionar quando as conta. Mas vou tentar, algum dia, quem sabe?...