Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

RECIFE E SUAS PONTES UNINDO CRATENSES


Entrevista com STELA SIEBRA DE BRITO em Recife.


- Como vê o Cariri atualmente?

Só consigo ver o Cariri de uma forma afetiva, do jeito que meu avô materno, José Augusto Siebra, o saudou no soneto escrito na primeira metade do século passado e que aqui transcrevo:
Hino ao Cariri

No Cariri tudo é belo
Tudo é galas e primores
É belo no sítio ameno
Ver-se flores multicores.

É belo o cantar das águas
Que vem de encontro à pedreira
A brisa a gemer nas folhas
Da majestosa mangueira.

Soluça a patativa
Na folha da bananeira
A juriti tão saudosa
Chamando a companheira.

Vê-se a beleza que tem
Os grandes canaviais
O canto dos passarinhos
Na fronde dos laranjais.

Ouve-se o rumor nas folhas
Do coqueiro pelo vento
Fitar os círios eternos
Que habitam no firmamento.

Que primavera meu Deus
Desponta no mês de abril
Maio, um altar a Maria
Coberto de flores mil.

Eu como sou filho desta
Terra cheia de delícias,
Quero viver no seu seio
Gozando suas carícias

É sempre assim, de um jeito bucólico e romântico que sinto e vejo o Cariri.

- Que lembranças marcaram sua vida no Crato e em Recife?

Do Crato tenho muitas lembranças definidas, sejam alegres ou tristes. Mas, é claro que elejo as alegres. Primeiro, a inesquecível Festa de Nossa Senhora da Penha, onde o sagrado e o profano se irmanavam e formavam um leque de novenas e orações, atrações e tentações. Depois de nove dias de novenas, o ápice da festa sagrada era a procissão de encerramento: as janelas das casas enfeitadas com bordados e flores, a multidão acompanhando a Padroeira no andor, lindamente decorado. Depois de passar por muitas ruas da cidade, abençoando a todos, a Nossa Senhora da Penha era coroada.
O aspecto profano da festa era tentador para crianças e adultos: carrosséis, leilões, barracas de comidas, músicas na amplificadora, muita gente na praça, muitos sonhos e desejos. Lembro que a vontade que eu tinha era rodar todo dia na roda gigante. Existia coisa mais fascinante do que aquela roda gigante do Parque Maia? O girar da roda era como a construção e realização de sonhos para mim. E o pior era que, como na minha casa os filhos eram muitos e o dinheiro curto, não dava pra rodar todo dia. Só nos domingos, que se resumiam em dois. Dois dias para construir e realizar sonhos, mas valeu a pena. Outra lembrança é da feira do Crato, pra mim inesquecível. Ainda hoje adoro uma feira, gosto da mistura de mercadorias oferecidas em bancas, espalhadas no chão: a feira das roupas, das frutas, a feira da rapadura, a feira dos cavalos, a feira das galinhas, das miudezas, a feira das bonecas... Ah, aquelas bonecas de pano, de vestido de papel crepom azul e cabelos de algodão pintado de amarelo, são inesquecíveis! Tinha também umas pequeninhas, que eram como se fossem as filhas das maiores. Tá tudo aqui guardadinho, com muito carinho, no meu acervo pessoal de memórias afetivas.
Do Recife e Olinda, cidades irmãs que nos acolheram há mais de trinta anos, a lembrança mais forte é a do primeiro impacto e encantamento, que foi com o carnaval, em fevereiro de 1970. Eu nunca tinha visto aquilo, muito menos vivenciado. O Carnaval era de todos e pra todos. O frevo na rua, o povo na rua. E eu caí na folia e nunca mais larguei.

3. Como se vê hoje?

Sou uma mulher madura, que não dispensa a gargalhada. Gosto de ver as coisas de um jeito bem humorado

- Quais os planos para o futuro?

Me aguardem...


3 comentários:

socorro moreira disse...

Uma das pontas dessa estrela é o sorriso !
Stela fala sério, colorindo a linguagem.
Moro no Crato , e revejo o Crato, lá de cima , do alto do Seminário, com o olhar que Stela "Chama" , e nos entrega.

Maria Amélia Castro disse...

Stela,
Bom dia!

Que coisa linda tudo isso que vc escreveu.Parece que abriu minha gaveta arquivo e mexeu em tudo.Coitada da Nossa Senhora pouco importava se era o mês Dela.
Quem não se lembra das musicas sendo oferecidas."de um alguem para alguem"Das gangorras ao lado da cadeia e os presos nas janelas das celas olhando.Deprimente.Tirando a cadeia tudo era maravilhoso.Nosso parque encantado.
abraços
Maria Amélia

Stela disse...

Pois é, quando a gente começa a abrir as gavetas, tem é coisa..., algumas empoeiradas, outras mofadas, queimadas, rasgadas, mas tem as lembranças intactas, perenes, consolidas na nossa memória afetiva.