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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Bisaflor conta Histórias - Por : Stela Siebra Brito

Hoje Bisaflor vai contar uma história muito bonita, pois a ocasião é mesmo muito especial. Convidada por Almina, Bisaflor encheu-se de amores por uma bisneta da amiga: Isabela, neta de Joaquim. Colocou a menina no colo, chamou todas as outras crianças pra juntinho dela, disse que os adultos também deviam se aprochegar, pois a história de hoje é muito comprida, mas é muito bonita. É um conto narrado pelos irmãos Grimm.
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O PÁSSARO DE OURO
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Era uma vez um rei que tinha um belo jardim onde havia uma macieira que dava maçãs de ouro. Quando as maçãs ficaram maduras, foram contadas, mas o que se observava era que ao amanhecer faltava uma maçã. Isso foi comunicado ao rei e ele ordenou que fosse montada guarda debaixo da árvore, todas as noites. Na primeira noite o rei, que tinha três filhos, mandou o mais velho deles para o jardim. Mas, quando deu meia noite, o príncipe não resistiu ao sono, e, na manhã seguinte, tornou a faltar uma maçã. Na noite seguinte, o rei mandou o segundo filho montar guarda, que também não resistiu ao sono e dormiu por volta da meia noite e, na manhã seguinte, faltava mais uma maçã. Então, chegou a vez do filho mais novo, que, apesar de não merecer muita confiança do rei, seu pai, insistiu e foi autorizado a montar guarda debaixo da macieira.
O jovem príncipe não se deixou vencer pelo sono e quando o relógio bateu doze horas, algo zuniu pelo ar e ele viu, à luz da lua, um pássaro cujas penas brilhavam como ouro puro. O pássaro pousou na árvore e acabava de tirar uma fruta quando o rapaz disparou uma flecha nele, acertando sua plumagem. O pássaro fugiu, mas uma das suas penas de ouro caiu no chão.
Na manhã seguinte, com todo seu Conselho reunido, admirando a pena de ouro e avaliando que uma pena daquela valia mais que todo o reino inteiro, o rei cobiçava ter todo o pássaro em suas mãos. Assim, mandou que o filho mais velho fosse pelo mundo procurar o pássaro de ouro.
O príncipe pôs-se a caminho, confiante na sua própria inteligência, achando que encontraria o pássaro de ouro. Depois de andar um pouco, ele avistou, à beira de uma floresta, uma raposa sentada. Apontou a espingarda para ela, mas a raposa gritou: - “Não me mates, eu te darei em troca um bom conselho. Estás no caminho do pássaro de ouro, chegarás hoje à noite a uma aldeia onde há duas estalagens, uma em frente da outra. Uma está toda iluminada e cheia de alegria. Mas não entres nela, mas sim, na outra, embora ela te pareça pior”.
“Como pode um bicho tolo desses dar-me conselho sensato?” – pensou o filho do rei, e apertou o gatilho, mas errou a pontaria, e a raposa esticou o rabo e fugiu para a floresta. Então ele continuou seu caminho e ao anoitecer chegou à aldeia que tinha as duas estalagens. Numa delas havia música e danças, mas a outra tinha aspecto pobre e miserável. “Eu serei tolo”, pensou ele, “se entrar na estalagem indigente em vez da outra, bonita”. Pensando assim, o príncipe dirigiu-se para a estalagem alegre e, no meio dos ruídos e das festas, ficou morando, esquecido do pássaro, do pai e de todos os bons ensinamentos.
Quando passou um bom tempo e o filho mais velho não voltava para casa, o segundo pôs-se a caminho, à procura do pássaro de ouro. Como o mais velho, ele encontrou-se com a raposa, mas não ouviu seu bom conselho, e quando chegou à aldeia, escolheu a alegre estalagem onde se encontrava o seu irmão mais velho. Ficaram os dois vivendo por lá, em meio à alegria que ali reinava.
Novamente o tempo passou. O príncipe mais novo quis partir, o rei não queria deixar, achava que seu caçula não tinha determinação, se os dois mais velhos não conseguiram encontrar o pássaro de ouro, imagine ele... O jovem insistiu e o pai permitiu que ele partisse. Quando o príncipe mais novo chegou à beira da floresta, encontrou a raposa que suplicou por sua vida em troca de um bom conselho. O moço foi benevolente e disse-lhe: - Sossega, raposinha, eu não te farei mal”, ao que a raposa respondeu: -“Pois não te arrependerás, e para que chegues mais depressa, monta na minha cauda”.
E nem bem ele montou, a raposa disparou a correr, zunindo por sobre paus e pedras, até o vento silvar nos seus cabelos. E quando chegaram na aldeia, o rapaz desmontou, seguiu o bom conselho e entrou, sem olhar para trás, na estalagem simples, onde pernoitou tranquilamente. Quando de manhã ele chegou ao campo, a raposa já estava lá e lhe disse:
- Eu vou dizer-te o que deves fazer daqui em diante. Caminha sempre em frente até chegares a um castelo, diante do qual está um grande grupo de soldados deitados. Mas não te importes com eles, pois estarão todos dormindo e roncando. Passa por entre eles e entra diretamente no castelo, atravessando todos os compartimentos. Por fim chegarás a um quarto, onde está um pássaro de ouro dentro de gaiola de madeira. Ao seu lado está uma gaiola suntuosa de ouro puro, mas toma cuidado, não tires o pássaro da gaiola simples para colocá-lo na rica, pois poderás te dar muito mal.
Com essas palavras a raposa esticou de novo o seu rabo e o príncipe montou nele, e lá se foram eles, zunindo sobre paus e pedras, até o vento silvar nos seus cabelos.
Quando o príncipe chegou no castelo, encontrou tudo tal qual a raposa alertara. Foi até o quarto onde estava o pássaro numa gaiola de madeira, tendo ao lado a gaiola de ouro. E as três maçãs de ouro estavam ali, espalhadas pelo chão. Aí ele pensou que era ridículo deixar o belo pássaro naquela gaiola de madeira; abriu a portinhola, agarrou-o e o colocou na gaiola de ouro. No mesmo instante o pássaro de ouro soltou um grito estridente. Os soldados acordaram, invadiram o quarto e levaram o moço pra prisão. Na manhã seguinte ele foi levado a julgamento e condenado à morte. O rei disse, porém, que lhe pouparia da morte se ele trouxesse o cavalo de ouro que corre mais depressa que o vento, e que ainda ganharia, como recompensa, o pássaro de ouro.
O príncipe pôs-se a caminho, mas ia suspirando tristemente, pois onde poderia encontrar aquele cavalo de ouro? Então, ele vê de repente, a sua velha amiga raposa, sentada na estrada.
- Estás vendo? - disse a raposa, - isso aconteceu porque não escutaste as minhas palavras. Mas, anima-te, eu cuidarei de ti e te direi como poderás chegar até o cavalo de ouro. Deves andar reto em frente, e chegarás a um castelo, onde o cavalo está numa cocheira. Diante da cocheira estarão os cavalariços dormindo e roncando, e poderás retirar o cavalo, tranquilamente. Mas presta atenção: coloca nele a velha sela de couro e madeira, e de modo algum a sela de ouro, pendurada ao seu lado, senão de darás muito mal.
E a raposa esticou o rabo, o príncipe montou nele, e lá foram eles zunindo sobre paus e pedras até o vento silvar nos seus cabelos. Tudo aconteceu conforme a raposa dissera, mas na hora de colocar a sela, o príncipe pensou: “Um animal tão belo fica desfigurado se eu não lhe puser a sela nova que lhe cabe”. Mas nem bem a sela de ouro tocou o cavalo, este começou a relinchar com toda a força. Os cavalariços acordaram, agarraram o jovem e atiraram-no na prisão.
Na manhã seguinte ele foi julgado e condenado à morte, mas o rei prometeu poupar-lhe a vida e ainda dar-lhe o animal de ouro, se ele conseguisse trazer a bela princesa do castelo de ouro. De coração pesado, o príncipe pôs-se a caminho, mas por sorte, logo encontrou a raposa, sua fiel amiga, que lhe disse: - “ Eu devia abandonar-te ao teu infortúnio, mas tenho compaixão de ti e vou ajudar-te mais uma vez a sair das tuas dificuldades. O teu caminho te levará diretamente até o castelo de ouro. Chegarás lá ao anoitecer, e de noite, quando tudo estiver em silêncio, a bela princesa sairá para a casa de banhos. Quando ela estiver passando por ti, agarra-a e dá-lhe um beijo. Então ela te seguirá e poderás levá-la contigo. Mas não permitas que ela se despeça dos pais, senão te darás mal’.
E a raposa esticou o rabo, o príncipe montou nele e lá foram eles zunindo por sobre paus e pedras até o vento silvar em seus cabelos. Quando chegaram no castelo de ouro, tudo aconteceu como a raposa dissera e o príncipe esperou pela meia noite. Tudo estava mergulhado em sono profundo, a linda donzela saiu para o seu banho e o príncipe deu-lhe um beijo. Ela disse que o seguiria de bom grado, mas implorou com lágrimas que ela a deixasse antes despedir-se dos seus pais. Ele resistiu no começou às suas súplicas, mas como chorava cada vez mais e se atirou a seus pés, acabou cedendo. Mas assim que a moça chegou perto da cama do pai, todo castelo se acordou e o príncipe foi preso. Na manhã seguinte o rei lhe disse:
- Tua vida está perdida, mas poderás encontrar clemência somente se retirares a montanha que está diante da minha janela e que me atrapalha a visão. E tens de consegui-lo em oito dias. Se o conseguires terás a minha filha como recompensa.
O príncipe pôs mãos à obra, começou a cavar e a cavar, sem descanso. Mas quando viu, no fim de sete dias, quão pouco conseguira, e que todo seu trabalho fora em vão, caiu em profunda tristeza e perdeu toda a esperança. Ao anoitecer do sétimo dia, apareceu a raposa e disse:
- Tu não mereces que eu me preocupe contigo, mas, vai e deita-te e dorme, que eu farei o trabalho em teu lugar.
Quando ele acordou na manhã seguinte e olhou pela janela a montanha havia desaparecido. O jovem correu muito alegre para o rei e comunicou-lhe que a tarefa estava cumprida, e o rei, quisesse ou não, teve que manter sua palavra e entregar-lhe a filha. Então os dois partiram juntos, e não demorou muito para a fiel raposa reunir-se a eles.
- Já tens o melhor, é verdade, - disse a raposa – mas à donzela do castelo de ouro deve pertencer, também, o cavalo de ouro.
- Como poderei consegui-lo? – perguntou o jovem.
- Isto eu te direi, - respondeu a raposa. – Primeiro leva ao rei que te mandou para o castelo de ouro, a famosa donzela que ele pediu. Então haverá enorme alegria, eles te darão o cavalo de ouro de bom grado, e o trarão para ti. Monte imediatamente nele, e dá a mão em despedida a todos, por último à bela donzela, e quando pegares na sua mão, puxa-a para junto de ti com uma arrancada, e parte a galope. E ninguém será capaz de alcançar-te, pois esse cavalo corre mais que o vento.
Tudo saiu conforme o combinado, e o príncipe levou consigo a bela donzela no cavalo de ouro. A raposa não ficou para trás e disse ao jovem:
- Agora te ajudarei também a conseguir o pássaro de ouro. Quando estiveres perto do castelo, onde está o pássaro, faz a princesa descer do cavalo, eu tomarei conta dela. Então, entra no pátio do castelo montado no cavalo de ouro. Quando o virem, eles ficarão muito contentes e te trarão o pássaro de ouro. Assim que tiveres a gaiola na mão, galopa de volta para nós e apanha a tua donzela!
Quando a empreitada terminou, bem sucedida, e o príncipe quis voltar pra casa com os seus tesouros, a raposa falou para o jovem príncipe que queria uma recompensa pela ajuda que lhe tinha prestado: - “Quando chegarmos lá na floresta, mata-me com um tiro e decepa-me a cabeça e as patas”.
O príncipe estranhou muito aquele tipo de recompensa, recusando-se a fazer tal coisa. A raposa lhe afirmou que sendo assim teria que abandoná-lo, mas que ainda lhe daria um bom conselho: -“Guarda-te de duas coisas: não compres carne de forca e nem te sentes à beira de nenhum poço”. Falando isso, ela fugiu para a floresta.
Tal conselho soou também muito inusitado para o príncipe, que passou a considerar aquela raposa um animal muito esquisito, com pedidos tão estranhos, mas prosseguiu sua viagem com a princesa. O caminho o levou àquela aldeia onde haviam ficado seus dois irmãos. Havia um grande alarido e ele quis saber o que acontecia. Foi informado que dois homens seriam enforcados, e qual não foi sua surpresa ao constatar que os homens eram seus irmãos, que praticaram muitos desmantelos por ali, inclusive ficaram endividados. O príncipe mais novo quis saber se não haveria perdão para seus irmãos e todos se admiraram dele querer pagar as dívidas daqueles dois perversos.
Mas, assim fez o príncipe: libertou os dois irmãos e seguiram viagem de volta ao castelo do pai. Quando chegaram à floresta, onde encontraram a raposa pela primeira vez, os irmãos sugeriram que parassem para descansar e se alimentar, pois o sol estava muito quente, e ali era um lugar muito agradável, sentariam junto do poço e fariam uma refeição. O príncipe mais novo concordou e, envolvido com a conversa, nem reparou que sentava-se na beira do poço, esquecido do conselho da raposa. Os irmãos o empurraram pra dentro do poço, pegaram a princesa, o cavalo e o pássaro e voltaram para o reino do pai.
Lá chegando se vangloriavam da façanha de, não só ter trazido o pássaro de ouro, pois muito mais tinham feito, conquistando a moça do castelo de ouro e o cavalo de ouro. Houve grande alegria no palácio; no entanto, o cavalo não comia, o pássaro não trinava e a moça só chorava.
O príncipe mais novo não morreu, teve sorte, pois o poço estava seco e ele caiu sobre musgo macio e não se machucou. Mas, “como sair daqui do poço?”, pensava e se afligia, até que foi mais uma vez socorrido pela fiel raposa, que o repreendeu por não ter seguido seu bom conselho.
Quando retirou o príncipe, a raposa lhe disse que tivesse cuidado porque os dois irmãos colocaram sentinelas por toda floresta para matá-lo, se por acaso ele escapasse do poço. Para se proteger, o jovem trocou de roupa com um mendigo que logo encontrou na estrada e partiu para o castelo do pai. Entrou pelo pátio, ninguém o reconheceu, mas o pássaro começou a trinar, o cavalo começou a comer e a donzela parou de chorar.
Admirado, o rei quis saber o que estava acontecendo, a princesa não sabia explicar como tão de repente passara sua tristeza e falou: “É como se meu verdadeiro noivo tivesse chegado, sinto-me tão alegre”. E passou a contar para o rei tudo que havia acontecido, apesar de ter sido ameaçada pelos príncipes mais velhos.
O rei mandou vir a sua presença todas as pessoas que estavam no castelo, e aí veio, também, o jovem príncipe disfarçado de mendigo, que foi logo reconhecido e abraçado pela princesa. Os perversos irmãos foram agarrados e castigados. E quanto ao mais novo deles, casou-se com a princesa do castelo de ouro, foi nomeado herdeiro único e sucessor do rei, seu pai.
Mas... e a fiel raposa? Que aconteceu com ela?
Um belo dia o príncipe foi até a floresta e encontrou a amiga raposa, que lhe disse:
- Tu tens agora tudo o que podias desejar, mas a minha desgraça não tem fim, e, no entanto, está em teu poder libertar-me.
E novamente ela implorou que o jovem a matasse e lhe decepasse a cabeça e as patas. O príncipe, finalmente, atende ao pedido da raposa, e assim que o fez, a raposa transformou-se num homem, que não era outro senão o irmão da bela princesa, que agora enfim estava livro do feitiço que o prendia.
Acabou-se o conto e o levou o vento e todo o mal se foi, e o bem que ficou que seja pra todos nós.
Stela Siebra

5 comentários:

Claude Bloc disse...

Ufa! Estava sentindo sua falta. Falei com Socorro pelo telefone e estávamos aguardando sua chegada já sentadinhas no colo de Bisaflor.

Abraço,

Claude

Joaquim Pinheiro disse...

Stela,
Terminei de ler a história em voz alta, com Isabela no colo. Ela simplesmente adorou. Valeu. Obrigado e parabéns. Joaquim

Joaquim Pinheiro disse...

Stela,
Terminei de ler a história em voz alta, com Isabela no colo. Ela simplesmente adorou. Valeu. Obrigado e parabéns. Joaquim

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

Stela
Li e gostei das histórias da Bisaflor. Você conta histórias maravilhosamente bem! Parabéns!

Stela disse...

Ei gente, que bom que existe essa Bisaflor, hein? cada história ótima, aguardem que segunda feira em mais.