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"Penetra surdamente no reino das palavras.
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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 27 de outubro de 2009

Geraldo Del Rey


Há certos ícones da cultura brasileira que não lhe são feitos as reverências e as homenagens merecidas. O ator Geraldo Del Rey é um desses ícones que fazem parte da história da dramaturgia nacional, tendo participado em atuações importantes e definitivas tanto no palco dos teatros, nas telas do cinema e da televisão. Sua trajetória confunde-se com a do próprio cinema novo. Sua passagem pela televisão marcou uma época em que o veículo precisa de grandes nomes e talentos para que se consolidasse ante ao público. Geraldo Del Rey, o galã do preto e branco, fez suspirar atrizes e mulheres poderosas, como Glória Magadan. Deixou um precioso rastro de talento por onde passou, marcando de forma indelével o mundo do espetáculo do século XX no Brasil.

Do Ciclo Baiano ao Cinema Novo

Geraldo Del Rey nasceu em Ilhéus, na Bahia, em 29 de outubro de 1930. Teve formação profissional na Escola de Teatro da Universidade da Bahia.
Sua presença no cinema nacional começa nos anos cinqüenta, onde participa ativamente do Ciclo Baiano, movimento precursor do Cinema Novo, que reúne todos os filmes que são realizados na Bahia entre 1959 e 1963. O movimento congregava personalidades como Glauber Rocha, Rex Schindler, Roberto Pires, Paulo Gil Soares, Oscar Santana, Orlando Senna e Antônio Pitanga.
Geraldo Del Rey trazia um estilo de interpretação interiorizado com influências do Actor's Studio americano. Participa em 1959 de Redenção de Roberto Pires, primeiro longa-metragem do cinema baiano. Do chamado Ciclo Baiano, participa de quase todos os filmes, entre eles: Bahia de Todos os Santos (1960), A Grande Feira (1961), Tocaia no Asfalto (1962) e Sol Sobre a Lama (1963).Consegue projeção nacional e internacional ao participar ao lado de Leonardo Villar e Glória Menezes no filme de Anselmo Duarte, O Pagador de Promessas (1962), que seria premiado com a Palma de Ouro em Cannes.
Mas é sob a direção de Glauber Rocha e sob as lentes do Cinema Novo que o ator de olhos verdes, chamado por alguns de Alain Delon tupiniquim, finca para sempre o seu nome no cinema brasileiro, participando dos antológicos e históricos Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e A Idade da Terra (1980).
Geraldo Del Rey integrou o núcleo fundador do Festival de Cinema de Gramado, em 1973, dando muito de seu prestígio e apoio para que o evento ganhasse repercussão nacional. Em 2004, em reconhecimento a essa colaboração o 32 Festival de Cinema de Gramado prestou uma Homenagem Especial pela sua participação e contribuição ao cinema nacional.


Militância e Casamento

Ainda no início da década de sessenta ingressou no Teatro Oficina, tendo importantes participações nos palcos. É nesta época de ebulição e mudanças dos ventos no cenário político nacional que Geraldo Del Rey se engaja nos movimentos políticos de esquerda, conservando uma militância que levaria até o fim da ditadura militar.
Casa-se em 1963 com a jornalista Tânia Carvalho. Com a situação política cada vez mais tensa após o golpe militar de 1964, passa um tempo na Europa, ao lado da mulher. Na ocasião Geraldo Del Rey fez um filme com a atriz Maria Barroso, mulher do político português Mário Soares, que futuramente seria a primeira dama de Portugal. Em 1967 nasce-lhe o filho Fabiano.

O Galã do Preto e Branco

Na televisão o belo porte logo lhe traz a condição de galã das telenovelas. Estréia na TV Excelsior, atuando ao lado de atores como Carlos Zara e Regina Duarte (em princípio de carreira). Vidas Marcadas, de Ivani Ribeiro (1965), consegue relativo sucesso que lhe rende algumas capas de revistas da época.
A sua estréia na Rede Globo acontece em 1968, na telenovela A Gata de Vison. A emissora ainda está nos seus primórdios. Reza a lenda que a autora da telenovela, a então toda poderosa Glória Magadan apaixonou-se pelo ator, 30 anos mais jovem do que ela. Geraldo Del Rey vivia o vilão da trama protagonizada por Tarcísio Meira e Yoná Magalhães. A tórrida paixão entre a autora e o ator refletia-se na trama, diz-se “quanto maior o ardor entre ambos, mais o personagem de Tarcísio Meira ia mudando de características e personalidade”. Conta-se ainda, que Tarcísio ao reclamar do rumo que seguia o seu personagem foi afastado definitivamente da telenovela. Com a saída do protagonista Glória Magadan solucionou o problema do casal romântico principal da trama, dando fim à personagem da protagonista, Meggy Parker, criando-lhe uma irmã gêmea, Dolly Parker, para formar o novo par romântico da novela, com Geraldo Del Rey. Pouco tempo depois a era Glória Magadan na Globo era encerrada e a autora é demitida da emissora. Surge a era de Janete Clair.
Em 10 de novembro 1969 a Globo reformula totalmente o formato de suas novelas com a estréia de Véu de Noiva, de Janete Clair, novela das oito da noite. Os dramalhões de época dão passagem para os dramas contemporâneos. O cenário já não é mais de castelos, arenas ou desertos, mas das praias da zona sul carioca. Pela primeira vez é inserida uma trilha sonora em uma telenovela. Véu de Noiva marca a estréia de Regina Duarte na TV Globo, ela é a protagonista ao lado de Cláudio Marzo. Geraldo Del Rey era o antagonista da novela, a última vértice do triângulo amoroso que formava com os protagonistas. Um papel importante em uma novela que logo de início foi sucesso absoluto. Mas o ator não chegaria ao fim da novela. Há duas versões para a sua saída da Globo, a primeira é a de que foi demitido por causa da sua militância política, o que é improvável, pois faziam parte da mesma militância Dias Gomes e tantos outros que trabalhavam na emissora. O que se conta em várias versões é que por volta do trigésimo capítulo, Geraldo Del Rey decidiu sair da novela, pois havia recebido convite para trabalhar na TV Tupi, em uma novela de Glória Magadan, agora contratada da emissora paulista. A saída de Geraldo Del Rey da trama faz Janete Clair resolver o problema com o assassínio da personagem, iniciando assim, a longa série de assassínios das telenovelas brasileiras, surgindo pela primeira vez o famoso bordão: "Quem matou ....?" No país só se fazia uma pergunta naquele começo de 1970: Quem matou Luciano? E com um tiro quando tocava ao piano, Luciano/Geraldo Del Rey encerrava definitivamente o posto de galã global.
Em 16 de fevereiro de 1970 estréia E Nós Aonde Vamos?, na TV Tupi. A novela é um fracasso. Glória Magadan vai embora do Brasil, indo escrever novelas em Miami. Esta novela seria a última da carreira de Leila Diniz, que morreria em um acidente de avião dois anos depois. Coincidentemente 1970 é o ano da separação do ator e de Tânia Carvalho.
Com a ida para a TV Tupi a carreira de galã de telenovelas de Geraldo Del Rey declina. Ele permaneceria nesta emissora até Roda de Fogo (1978), indo para a TV Bandeirantes em 1979, tendo um papel de destaque em O Todo-Poderoso. Passaria ainda pelo SBT. Só voltaria à Rede Globo em 1986, numa pequena participação na novela Cambalacho. Em 1990 Geraldo Del Rey já sem o porte de galã, calvo e envelhecido, brilha novamente em uma novela global: Lua Cheia de Amor, fazendo par romântico com Marília Pêra. A última interpretação do ator foi a do jornalista Damasceno, na minissérie Anos Rebeldes (1992), de Gilberto Braga, produzida pela Rede Globo. No dia 25 de abril de 1993, Geraldo Del Rey faleceu. Saía de cena uma das mais intrigantes carreiras de um ator brasileiro. Da vanguarda do movimento do Ciclo Baiano e intérprete imprescindível do Cinema Novo ao galã das telenovelas preto e branco, este ator deixou a sua marca indelével no cenário nacional. O estudo da sua carreira será sempre uma descoberta.

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