Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 27 de outubro de 2009

Quem já leu Fotonovelas ? - Por Socorro Moreira


Na medida em que a televisão nos tirou da praça Siqueira Campos, das calçadas, das tertúlias , do cinema, a Fotonovela foi substiuída pelas novelas da Globo.
Era uma leitura velada, proibida. Minha mãe abominava, mas meu pai gostava. Eu lia escondida. Corria pro banheiro, que ficava na área externa da casa , e entre o pé de mamão e o pé de côco, fugia dos olhares de vigília. Adorava ! Por ser proibido , eu adotava outro tipo de leitura , mas não dispensava uma revista em quadrinhos : Luluzinha , Bolinha, Zé carioca...Tudo bem ! Essas eu tinha permissão para comprar...Mas, e Sétimo Céu, Grande Hotel, Capricho, Ilusão...?
Essas eu lia do meu pai, e das amigas.
Passando férias em Recife , eu fiz amizade com uma vizinha dos meus tios. Justo a nossa colaboradora ROSA GUERRERA ( jornalista). Ela comprava todas, e eu não sosseguei, enquanto não li sua coleção. Depois de um mês, quando as férias findaram , eu sabia tudo do amor que não dava certo; tudo do amor romântico; tudo do perfil de homem certo, e dos errados também!

Não sei até que ponto sou produto daquelas estoriazinhas, mas sei que elas me ensinaram a namorar, e a gostar de me apaixonar. Os príncipes não tinham cavalo branco, nem título de nobreza; as princesas eram belas e pobres, e o final era sempre feliz ! Destarte o caráter de sub-literatura, em cada estória , ficava uma lição de moral, mesmo que na maioria, nos alienassem.
Mas a síndrome de Gata Borralheira, Cinderela, Rapunzel, perdiam feio, diante das estórias contadas pelos astros da Fotonovela. Li , sim ! Lia e gostava ... Ainda me entristeço por terem desaparecido das bancas de revistas ( ficou sem mercado), e por ter deixado de por elas me interessar. Há 45 anos atrás, fechei o ciclo !
Socorro Moreira


QUEM JÁ LEU FOTONOVELAS ?

Li Fotonovelas sim! E não pensem que me envergonho ao confessar. Gostava de ler, meeeesmo! Adorava todas aquelas estórias recheadas de amores proibidos, desencontros, intrigas... Minha irmã mais velha era viciada - e de carteirinha! - por Fotonovelas ( e eu também, só que minha vicitude maior eram os meus GIBIS, lógico!). Lembro que ela comprava fotonovelas quando ia para São josé do Egito, Arcoverde e Recife com minha mãe. Enfim, minha irmã e eu, fomos absolutamente dependentes dessa "literatura nefelibatária". Imaginem caríssimos/as : Uma adolescente e uma criança na década de 70 em plena ditadura militar, valores patriarcais rígidos, machismo dominante e ainda morando na quietude de uma pacata cidade do interior... Impossível não alienar! Então, ler fotonovelas para muitos jovens itapetinenses naquela época, era um legítimo passaporte para o sonho... Uma possibilidade de viajar, conhecer e sonhar com coisas que a realidade, naquele momento, não podia nos dar. Talvez hoje, na casa dos quarenta e após ter lido Sartre, Lispector, Saramago e toda uma trupe de escritores bacanérrimos, me percebesse desperdiçando tempo com estorietas açucaradas. Seria, provavelmente, um pequeno deslize intelectual. Mas, "Naquela Época?" Ah!!! Eu A-D-O-R-A-V-A ... E lia sem culpa.Tive amigos que liam escondido durante a noite ou trancado no banheiro, contanto que ninguém visse. " Isso é coisa de mulézinha..." Diziam os machistas de plantão da época (pouco me importava, nunca liguei para isso mesmo!). Eita! Acabo de lembrar... o "Paraíso das Revistas" era a casa de seu Jonas e Dona Mariquina, onde suas filhas: Darc, Teresinha, Socorro, Céa, Laurizete, Maísa... (...enfim, todas!). Possuiam um verdadeiro arsenal de revistas em casa. Pensou em revistas de tv e de fotonovela, podia passar na casa delas que encontrava. As paredes dos quartos eram tomadas de cima a baixo por posters dos artistas da época. E eu ficava só admirando... Saudades! E o troca-troca de fotonovelas? Era um tal de empresta aqui, devolve acolá... jesusmesalveporfavor! E Quando minha irmã gritava, já no finalzinho da tarde, com sua voz de lata caindo: "Dhooooooottaaaaaa!..." Já sabia o que me esperava: "Tu vai lá na Pharmácia e entrega essa revista pra Zeta de Adalto. Depois, vai lá na casa de Ivany e pegue com ela as duas fotonovelas de Luciano de dona Graciete. Daí, você volta aqui pra casa de novo, deixe uma comigo e vai deixar a outra lááááá na casa de Graça de seu Zé Santos. Depois quando você vier subindo, passe na casa de....." Humm! Sei... Todo mundo pensando: "Nossa!!! Que irmãozinho maravilhoso ela tem, quero um desse pra mim também...." KKKKKKKKKKKKKKK . Maravilhoso? (claro!) e muito Interesseiro também!. É que tinha feito um pacto com minha irmã. Ela só poderia devolver as fotonovelas (fosse a quem fosse) quando EU terminasse de ler, uma a uma.E as mais lidas por nós eram de produção italiana: "Grande Hotel", "Kolossal", "Jacques Douglas" e "Lucky Martin" (minha preferida), cujo enredo era sempre de espionagem e romance. E as foto-atrizes ? Todas italianas lindíssimas : Paola Pitti, Marina Coff, Michela Roc, Simona Pelei, Claudia e Francesca Rivelli, Adriana Rame, Wendy D’Olive, Rosalba Grottesi (sempre pérfida vilã) e Katiuscia (RS!) cujo nome virou moda e serviu para batizar muita menina itapetinense na época. Quanto aos foto-atores, eram homens também belíssimos: Franco Dani, com sua famosa covinha no queixo, que fazia minha irmã suspirar e gritar por "socorro" (ela vai querer me matar por isso - RS!). Tinha também o Franco Gasparri, Jean Mary Carletto, Alex Damianni, Enzo Colajacono, Frank O’Neil, Gianfranco de Angelis, Gianni Vanicola, Max Delys e Luciano Francioli. Sim, e tinha as revistas nacionais que também traziam fotonovelas: "Capricho", "Ilusão" e "Sétimo Céu".


O interessante nas fotonovelas era que o bem sempre vencia o mal, indiscutivelmente. E ao final de cada estória não podia faltar um "lindo" pôr de sol, com um "lindo" casal ( que eram revezados e quase sempre os mesmos das outras estórias ) de mãos dadas vislumbrando o "lindo" horizonte. Enfim,tudo muito "liiiiiiindo" demais. MIO DIO DEL CIELO !!! Penso o quanto amamos, sofremos e odiamos junto com todas as estórias dessas fotonovelas. E é verdade, pois lembro que minha irmã tinha (e ainda tem) uma grande amiga ( Claro que não vou dizer o nome - RS! ) que queria porque queria ( rezando e jurando de pé junto ) um romance igual ao de Katiuscia com Franco Gasparri e digo mais, se achava uma atriz talentosíssima e de profunda capacidade dramática, inclusive para atuar "expressivamente" em todo e qualquer "foto-papel", desde que fosse ao lado do Franco Gasparri... Enfim, apesar dos pesares é muito bom constatar que amadurecemos com o tempo, que a vida não é mais uma fotonovela e que apenas as boas recordações permaneceram...
por Marcos Dhotta ( texto e imagem)

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