Sete horas e ainda tomavam o café da manhã. A madrugada tirara as tias da cama. Rosinha levantou-se para beber uma caneca de água bem gelada lá pelas 2:30 horas quando ouviu barulho no curral. Abriu a janela e os bezerros estavam soltos, mamando o leite do dia. Tentou tanger os bichos sozinha. Bezerro mamão é o diacho: tange de um lado, ele corta as pernas da vaca e vai direto para o outro já com a boca no bico do peito.
Não teve jeito, gritou pelas irmãs e foi uma luta para enfrentar a bezerrada doida por leite abundante. A força da juventude dando dribles nas três. Maria puxou um pau para escorar a porteira do curral do bezerro só que ele segurava a porta do galinheiro e as poedeiras se espalharam em algazarra de tetéu na madrugada. Raimunda, no escuro esbarrou no cocho dos porcos e foi de corpo ao macio úmido do estrumo do curral.
Resultado: às 4 horas estavam as três suadas, sujas do indesejado, tomando banho. Diga-se que aquecido por chuveiro elétrico. Deitaram para assuntar o dia amanhecendo e caíram no sono. Por isso o café tão tarde. Sem leite, só a coalhada do dia anterior. Terminaram e foram ler as notícias na internet. Chegaram na manchete considerada por elas a do dia: “Humanos podem ter assassinado Neandertal há mais de 50 mil anos.”
- Que coisa mais horrível! Mundinha está com raiva do mundo para ler notícia desta?
- E o estudo indica que o homem moderno pode ter contribuído para o fim do homem de Neandertal.
- Eu bem que desconfiava. Por isso é que só respeito gente do tempo antigo. Agora é só guerra. Nos tempo dos nossos avós e de pai, ninguém assassinava outro, podia matar, mas matar é diferente.
- Rosa, e onde já se viu que matar é diferente de assassinar?
- A notícia está dizendo: o assassinato contribui para o fim do outro. Matar era olho no olho, era no suor, no perigo para os dois. Tanto um podia ir se ter com o Padre Eterno quanto o outro. Este negócio de assassinato é na covardia, de tocaia, coisa de sicário.
- Menina não é assim não. A notícia é de 50 mil anos atrás. Era antes de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Moisés e até de Abrahão.
- E então por que é que só hoje estão dando a notícia?
- É estudo de universidade. Leia aqui: o que temos é um ferimento na costela com uma série de possíveis explicações.
- Então, isso é conversa de baú. Pode ser uma queda, ser tanta coisa e como se pode dizer que foi o homem moderno?
- Olhe aí Mundinha: o estudo não conclui de forma definitiva quem foi o responsável pela morte e nem qual a razão.
- E qual o motivo desta notícia?
- Botar mais culpa neste já tão culpado homem moderno.
- É mesmo. Vou dizer uma coisa para vocês, eu já estava me sentindo muito da culpada. Se o homem moderno tivesse mesmo matado este Neandertal eu iria passar a manhã pedindo perdão a Deus.
- E por que menina?
- Naquela hora que peguei o pau que escorava a porta do galinheiro, o que eu queria mesmo era tacar o malho bem no meio da testa daqueles bezerros.
- Apaga este computador! Vamos dar uma caminhada até a Lagoa da Besta.
Não teve jeito, gritou pelas irmãs e foi uma luta para enfrentar a bezerrada doida por leite abundante. A força da juventude dando dribles nas três. Maria puxou um pau para escorar a porteira do curral do bezerro só que ele segurava a porta do galinheiro e as poedeiras se espalharam em algazarra de tetéu na madrugada. Raimunda, no escuro esbarrou no cocho dos porcos e foi de corpo ao macio úmido do estrumo do curral.
Resultado: às 4 horas estavam as três suadas, sujas do indesejado, tomando banho. Diga-se que aquecido por chuveiro elétrico. Deitaram para assuntar o dia amanhecendo e caíram no sono. Por isso o café tão tarde. Sem leite, só a coalhada do dia anterior. Terminaram e foram ler as notícias na internet. Chegaram na manchete considerada por elas a do dia: “Humanos podem ter assassinado Neandertal há mais de 50 mil anos.”
- Que coisa mais horrível! Mundinha está com raiva do mundo para ler notícia desta?
- E o estudo indica que o homem moderno pode ter contribuído para o fim do homem de Neandertal.
- Eu bem que desconfiava. Por isso é que só respeito gente do tempo antigo. Agora é só guerra. Nos tempo dos nossos avós e de pai, ninguém assassinava outro, podia matar, mas matar é diferente.
- Rosa, e onde já se viu que matar é diferente de assassinar?
- A notícia está dizendo: o assassinato contribui para o fim do outro. Matar era olho no olho, era no suor, no perigo para os dois. Tanto um podia ir se ter com o Padre Eterno quanto o outro. Este negócio de assassinato é na covardia, de tocaia, coisa de sicário.
- Menina não é assim não. A notícia é de 50 mil anos atrás. Era antes de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Moisés e até de Abrahão.
- E então por que é que só hoje estão dando a notícia?
- É estudo de universidade. Leia aqui: o que temos é um ferimento na costela com uma série de possíveis explicações.
- Então, isso é conversa de baú. Pode ser uma queda, ser tanta coisa e como se pode dizer que foi o homem moderno?
- Olhe aí Mundinha: o estudo não conclui de forma definitiva quem foi o responsável pela morte e nem qual a razão.
- E qual o motivo desta notícia?
- Botar mais culpa neste já tão culpado homem moderno.
- É mesmo. Vou dizer uma coisa para vocês, eu já estava me sentindo muito da culpada. Se o homem moderno tivesse mesmo matado este Neandertal eu iria passar a manhã pedindo perdão a Deus.
- E por que menina?
- Naquela hora que peguei o pau que escorava a porta do galinheiro, o que eu queria mesmo era tacar o malho bem no meio da testa daqueles bezerros.
- Apaga este computador! Vamos dar uma caminhada até a Lagoa da Besta.
Um comentário:
Depois de mais um episódio - As Tias , meu apetite literário foi saciado. Hora de também esticar as pernas rumo ao "Sossego".
Meu lado atávico precisa viver !
O que mais gosto nas TIAS é o bucólico separado por uma tela.
O que mais gosto em Zé do Vale é quando ele consegue emparelhar num sorriso Pe.Cícero e o Redendor.
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