Nada se vê em Hiroshima.
Hiroshima: cidade de prédios e carros.
Casais de blue jeans cochilam
em bancos situados nos parques
uma criancinha corre atrás dos pombos sobre a relva.
O cogumelo atômico,
o cenotáfio -
São apenas gotas para instantâneos.
Não, isto é o que eu vi.
Pessoas sentadas em grupos como ascetas
sobre o meio-fio defronte ao cenotáfio.
Movendo-se lenta
e silenciosamente,
ligados em testes nucleares subterrâneos
no deserto de logínquos países
e no silencioso ruído das cinzas mortíferas
que explodem no ar,
gente que já viram o inferno atômico.
Pessoas sentadas no meio-fio
que conversam com mortos,
reunem-se aos mortos
para clamar pela paz.
Isto foi o que vi.
Gente em Hiroshima
sentados nos meio-fios
clamando pela paz.
Kurihara Sadako ( 1913 – 2005 Hiroshima - Japão ) Tradução de Emerson Teixeira
Kurihara Sadako, a poetisa hibajusha (vítima da bomba atômica) nascida na cidade infelicitada pelos homens, sobrevivente atômica.
Kurihara (1913-2005) é a poeta do pós-bomba, símbolo de um tempo novo e terrivelmente doloroso, ensaísta, ativista e líder do movimento antinuclear, que legou à posteridade 100 ensaios e 400 poemas sobre a experiência traumatizadora.
Sadako é um símbolo de amor à vida, representante de um povo que a perdeu imensamente em guerras. Apóstola da paz, por sua produção literária, mas não só por ela, observa:
“Hiroshima não é, de modo algum, algo que ocorreu no passado... Hiroshima é um lugar no futuro, onde podemos ver até onde pode nos levar o militarismo, a corrida armamentista, sua destinação; é o maior ponto cego da espécie humana, que serve como referência para o mundo”.
Um comentário:
Mulher que sabe das coisas, um abraço da sua admirada !
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