"Ela obviamente tinha um relacionamento emocional com mulheres, e possivelmente sexual também" (?), disse o tradutor Martin West, acadêmico da Universidade de Oxford. O poema foi descoberto após pesquisadores da Universidade de Cologne, na Alemanha, identificarem um papiro que envolvia uma múmia do século 3 antes de Cristo. Nele estavam os versos da poetisa.
Os pesquisadores perceberam que alguns dos fragmentos do poema encaixavam-se a outros já identificados como de autoria de Safo, descobertos em 1922. Combinando as duas partes e completando os espaços perdidos com palavras de significado compatível, o original foi reconstruído.
Nos versos publicados agora, a poetisa lamenta o passar do tempo ao comparar os corpos jovens de dançarinas aos seus frágeis joelhos e aos seus cabelos brancos.
Adeus a Átis
( tradução de Décio Pignatari )
( tradução de Décio Pignatari )
Não minto: eu me queria morta.
Deixava-me, desfeita em lágrimas:
"Mas, ah, que triste a nossa sina!
Eu vou contra a vontade, juro, Safo".
"Seja feliz", eu disse,
"E lembre-se de quanto a quero.
Ou já esqueceu? Pois vou lembrar-lhe
Os nossos momentos de amor.
Quantas grinaldas, no seu colo,
— Rosas, violetas, açafrão
— Trançamos juntas! Multiflores
Colares atei para o tenro
Pescoço de Átis; os perfumes
Nos cabelos, os óleos raros
Da sua pele em minha pele! [...]
Cama macia, o amor nascia
De sua beleza, e eu matava A sua sede" [...]
Cai a lua, caem as plêiades e
É meia-noite, o tempo passa e
Eu só, aqui deitada, desejante.
— Adolescência, adolescência,
Você se vai, aonde vai?
— Não volto mais para você,
Para você volto mais não.
ΣΑΠΦΩ Safo - Grécia
(31 Poetas, 214 Poemas. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1996)
Poetisa grega nascida em Mitilene, capital da ilha grega de Lesbos, nordeste do mar Egeu, situada diante da costa da Anatólia, a maior poetisa lírica da Antigüidade e conhecida como a Vênus de Lesbos, famosa pelas declamações de seus poemas, em reuniões sociais de mulheres de boa família, costume comum nessa ilha grega.
Filha de família rica, ainda infante deixou sua pequena cidade natal para morar em Mitilene, onde estudou dança, retórica e poética, estudos então, permitidos para as mulheres da aristocracia. Segundo afirmam várias crônicas, preferiu perder as benesses a que tinha direito para, então, desenvolver sua vida com liberdade e envolveu-se com o jovem Alceu, poeta e desafeto político do ditador.
Por isso acabou sendo exilada na cidade de Pirra, embora acusada de envolvimento contra o governo do ditador Pítaco, o mesmo que seria depois incluído na lista de Os Sete Sábios da Grécia, coisa improvável pois ela nunca demonstrou envolvimento político em seus poemas.
Depois da volta para Mitilene não demorou a ser exilada de novo, desta vez na Sicília, onde se casou com milionário Kercolas, próspero habitante da ilha de Andros. Com este rico esposo teve uma filha e, pouco depois, ficou viúva. Rica deixou a Sicília e voltou para Mitilene, Lesbos, onde viveu a maior parte de sua vida.
Na capital da ilha fundou um colégio para meninas da alta sociedade, onde ensinava música, poesia e dança. Tornou-se líder de uma das sociedades informais que reunia as chamadas de hetairas, que em grego significa companheiras. Elas se entretinham sobretudo com a composição e a declamação de poemas, e formaram grande número de admiradores da mestra.
Com os boatos na cidade sobre atos e costumes adotados na sua escola, os pais começaram a tirar suas filhas da escola e rapidamente e a escola acabou. Sua hetaira favorita, Átis, por quem sentia paixão maior, foi uma das primeiras a sair, retirada pelos pais. Deste episódio compôs o Adeus a Átis, considerada até hoje como um dos mais perfeitos versos líricos de todos os tempos, tornando-se imortal através dos séculos.
Ela teria dito que irremediavelmente, como à noite estrelada segue a rosada aurora, a morte segue todo o ser vivo até que finalmente o alcança... e morreu em Mitilene, onde viveu a maior parte de sua vida. Não se sabe exatamente como seus poemas circularam entre seus contemporâneos e nos três ou quatro séculos que se seguiram.
Sabe-se, entretanto, que no século III a. C. os eruditos alexandrinos reuniram sua obra em aproximadamente dez livros escritos em papiros, mas essa edição não sobreviveu aos desmandos pseudo-moralísticos da Idade Média, por causa de suas históricas atitudes pessoais.
Esta brilhante poetisa foi condenada pelo famigerado fanatismo moralístico-religioso através dos séculos, e por volta do século XI, toda a sua obra conhecida, inclusive a contida nos volumes publicados em pergaminhos, Alexandria, foi queimada por ordem da Igreja.
Acidentalmente, no final do século XIX, arqueólogos britânicos descobriram, por acaso, em Oxorinco, sarcófagos envoltos em tiras de pergaminho, onde estavam ainda legíveis cerca de seiscentos de seus versos, o bastante para reconhecê-la como a maior poetisa lírica da Antiguidade.
Comparada ao seu contemporâneo Alceu, para alguns seu amante na juventude, e Arquíloco, sua obra praticamente não continha referências políticas, característica freqüentemente encontrada nos versos de Alceu, por exemplo.
Escrevia em linguagem simples, de forma concisa e direta, sobre assuntos pessoais: amores, ciúmes e rivalidades que surgiam entre as mulheres com quem se reunia, e as relações com seu irmão Charaxo. Reflexiva, discorria com tranqüilidade sobre os próprios êxtases e sofrimentos, sem que isso reduzisse o impacto emocional dos seus poemas.
Como poetisa defendeu o amor em seus trabalhos e deu origem ao termo safismo, depois conhecido como lesbianismo. A primeira mulher a fazer poesia de alta qualidade na história da cultura ocidental, sua importância foi tanta que Platão a denominou de A décima musa. Lembrar que, pela mitologia grega, eram nove as musas, filhas de Júpiter e Mnemosine, e cada uma delas possuía um atributo especial em artes, habilidades ou conhecimentos
Um comentário:
Histórica fantástica !
Corujinha e suas pérolas.
Abraços .
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