O quarto estava escuro. Eram mais ou menos 4:00 da manhã.
Eu procurava o que fazer enquanto meus dedos vagavam silenciosamente pelo teclado do objeto a minha frente. Sentia o vento bater em minhas costas, a tênue luz do poste urbano ventilar-me a íris. As cores que brotavam dos reflexos dos meus dedos misturavam-se a escuridão. Ambas negras.
Senti o pequeno impacto e apenas me mexi. Senti o segundo e me revistei. Senti o terceiro e me procurei, lentamente, no vazio.
Pequenos choques avançavam contra minha epiderme delicada a corpos externos, agora ainda mais alerta pela escuridão. Insetos talvez. Há algum tempo chovia. Deviam procurar por luz.
E... sim, constatei que estava certo quando na ponta dos dedos peguei um dos meus pequenos meteoros sobre o pano da ébria cama de veludos insones. Apenas joguei-o longe. Não queria matá-lo.
A medida que o tempo passava, os impactos aumentavam e minha paciência parecia correr no sentido contrário. E eis que veio-me uma pergunta: se estavam atrás de luz, porque insistiam em, como ondas na areia, quebrar sobre minha carne?
Olhei para a luz a minha frente e a tela continuava limpa, sem vestigios dos meus companheiros atordoantes.
E então, tomei um susto.
Olhei para mim.
Os pequenos voadores agora cercavam-me em espiral. Vagalumes. Brilhantes.
De meu corpo saia um brilho azul e magnífico, surreal e andrógino. Meu corpo inteiro brilhava e meus amigos o idolatravam, como a mais perfeita luz já vista. Assim fiquei por alguns minutos, olhando-me. Meus olhos castanhos voltaram-se para a janela, para a grande lua no alto.
E como a suave brisa de consciência que me tocava, intimidei-me ao saber, que não mais à carne e à terra eu pertencia, mas ao azul e delirante céu da pré-manhã.
5 comentários:
Grande Cauê !
Estamos felizes em tê-lo como colaborador do Cariricaturas.
Você já chegou com o talento reconhecido.
Abraço carinhoso.
Gente,
Estou pasma !
A 1:oo hs da manhã esse menino nos presenteia com este texto...
Garoto, e quando tiver a nossa idade como vai ser ?
Socorro Moreira, de onde apareceu este Cauê ? .......
Quero saber sobre ele. Acho que devia escrever ...
Uma pequena biografia para nós....
Estou aguardando.
Edilma,
Cauê foi descoberta de Socorro. Ele é filho de uma colaboradora.
Fantástico, não?
Abraço a você e ao autor,
Claude
Cauê Alencar,
a todo instante
(mesmo que pareça nada a escrever)
escreva e mergulhe e se perca e se reencontre e dê as mãos aos vaga-lumes e escreva, escreva, escreva. Sempre.
Forte abraço.
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