Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 8 de junho de 2010

Sabores de outros tempos- por Socorro Moreira




Crato e a Gastronomia, nos anos 60. Dona Valda, minha mestre-cuca!

Ainda há pouco, desci para almoçar, o feito por mim! Tava legal, porque faço pensando no paladar do meu filho, Victor. E se eu morasse sozinha? Com certeza comeria muito mal.
Entre a sala e a cozinha, eu me senti vestida de farda, boca cheia d’água, estômago roncando, correndo pra almoçar , depois do expediente escolar.
Todos os dias, o cardápio era previsto:
Na segunda-feira, um baião de dois escuros (muito feijão), soltinho, porque era refogado com torresmo. Carne de sol assada, no fogareiro a querosene, paçoca, banana da casca verde.
Na terça-feira, nos aguardava um cosido com todos os legumes (batata doce, macaxeira, jerimum, cenoura, etc); um arroz branco soltíssimo (minha mãe só comprava arroz velho);
Macarrão refogado na nata de leite, e pirão feito com o caldo do cosido.
Na quarta-feira, tinha sempre lombo assado, recheado com pequenos pedaços de toucinho; Salada de ovos cosidos com tomates, feijão mulatinho, do caldo grosso, bem temperado. Minha mãe fritava rodelinha de batata-doce, que pareciam deliciosas bolachas. Adorávamos!
Na quinta-feira tinha bifes batidos no cepo. Acompanhados de jerimum bem verde; arroz com pequi, macarrão de forno com queijo ralado e ovos batidos.
Na sexta-feira era o dia do peixe ou bacalhau. Ao molho de coco, e aqueles temperos verdes que nos enganavam, o cheiro. Tinha sempre um molhinho separado com pimenta malagueta. Aí cabia o purê de batata, e o feijão verde temperado com nata.
O sábado era o pior ou o melhor dos dias. Detestávamos carne de bode ou carneiro.Mas ela tinha que agradar ao velho. Então fazia costelas de porco assadas, uma frigideira de carne moída, uma titela de galinha, na chapa. .
Aos domingos, o cardápio era sagrado: galinha (só existia a caipira) ou peru, ao molho pardo, salpicão de legumes, arroz refogado, polenta de milho verde.A mesa era colorida e farta !
Os jantares é que lembro com mais saudades: arroz topado, sopa de feijão, canja de galinha, arroz com tripa de porco torrada, fígado, arroz com ovo caipira e lingüiça caseira. Hum... Que saudades de todos aqueles pratos!
Dos lanches também: das 9 h e das 14 h.
Só não gostava quando ela inventava gemada de ovos caipira com mel de abelha. Achava enjoado! Mas os suspiros, sequilhos, doces no tacho com queijo de manteiga, banana frita, bolos diversos, umbuzada, mangusta... Vixe, bom demais!
Minha casa tinha esse movimento de festa na cozinha.. Euy me criei gostando de sentir os cheiros, e pegar na colher de pau, pra mexer o vatapá.
Nada de pizas, lasanhas, parmegianes, nem salmão defumado. Lagosta? Só conhecíamos, no máximo, cioba e cavala. No mais era traíra, piau... !
Não tínhamos musses, nem gelatinas de sobremesas. Minha mãe fazia o tradicional pudim de leite, e batia o mamão com maracujá ou laranja, colocava uma calda de ameixa, e ficava lindo e delicioso!
Valda querida, obrigada por ter cuidado tão bem da nossa família. Hoje estamos presos aos grelhados, descartamos os temperos de porco, e aderimos aos azeites de oliva, mas tua comidinha( cem por cento natural) , ficou na memória de todos os meus sentidos !

3 comentários:

Edilma disse...

Socorro,

Ao ler seu texto gastronómico meu pensamento voou pelo caminho do cheiro gostoso vindo das panelas do velho fogão. Pude sentir até o sabor virar na água na boca. Cada palavra despertou o desejo no pudim de laranja com calda de ameixas. Faz isso não mulher !
Comecei uma dieta e tenho que me contentar com as torradas integrais e um pouco de becel...
Oh! Judiação !

Beijo !

Unknown disse...

Socorro querida,

Nem nos conhecemos, mas sempre visito o cariricaturas para me sentir mais perto da minha terra - Crato - Granito. O seu texto de agora ne encheu os olhos de lágrimas e o coração de vontade, de vontade de estar na casa dos meus pais, pois a culinária de lá é muito parecida com a sua, apenas com um detalhe de diferença - adoramos carneiro - veja bem, carneiro e não bode.
Fiz uma viagem a cozinha da minha mãe que acolhe a todos com bons pratos nordestinos e o calor de seus carinhos, embora ela seja paranaense, mas que vive há 36 anos em PE.

Obrigada por compartilhar os seus textos-poemas conosco.

Um forte abraço e mta paz e luz!

socorro moreira disse...

Edivangela,

Que bom que o cheirinho da nossa gastronomia tenha chegado até você.
A proposta do cariricaturas é exatamente esta : partilhar lembranças, acordar no presente, e sentir que estamos vivos , e somos parte de uma grande tribo .

Um abraço grande!