Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 23 de agosto de 2009

O papel do ASPONE - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Algum senso de despeito existe ao se pronuncia “Assessor de Porra Nenhuma”. Se um desocupado se der ao luxo, encontrará no dicionário que “assessor” se origina do verbo latino “assidere” que significa ‘estar ao pé de; junto de’.

E assim é. Ninguém nega. Em ambiente de uma Secretaria Municipal de Saúde de algum município do médio Paraíba, no Rio de Janeiro. Nada mais acrescento a não ser que é formado por duas palavras e que a primeira começa com um B.

Estava de férias. Uns minguados reais por acréscimo no salário por conta do cargo. De férias quando o Secretário cai e outro sobe. Suspende o direito ao gozo remunerado, afinal está ao pé do gabinete em que se tem a paralaxe maior do poder.

Volta xingando a si própria. A chuvarada de palavrões sobra para os colegas. Corredores, mobiliários e arquivos. A porra da vida estava correndo sem nenhuma altercação. Sem a porta do “batente” e o cartão de ponto por disputa.

Tem de se apresentar à nova autoridade. Não sem um nó de angústia na esquina da covardia face à necessidade da verba do cargo. Banho tomado, perfume renovado, bate na porta com os dedos de luva e a voz firme do poder novo ordena que entre.

Apresenta-se. Conversa. Desconversa. Acresce e diminui. Multiplica efeitos e subtrai os adversários. Fala da infância, foram criados na mesma rua. Tem as palavras que iguala todos os patrícios. Uma lembrança, doce elogio da vivacidade dele quando criança. Alguma memória que torna engraçado aquelas brincadeiras infantis que tanto raiva dava enquanto ocorria ao vivo e a cores.

Ao final a grande tarefa do dia. O verdadeiro papel da assessora. Eis que o poder público zela pela cadeia de comando. Não deixará que fatos secundários tomem conta da hombridade da autoridade. E a assessora é rápida ao menor perigo. Quando estava prestes a se despedir, mostra o seu o valor e a grande dimensão da sua função.

- Tu vais receber mais alguém? – alerta a autoridade sobre a agenda do dia.
- Sim.
- Olhe tem uma casca de feijão nos dentes molares da esquerda.

A audiência que estava prestes a se encerrar, mas se desdobra em fatos novos. Ela assiste ao movimento da língua do recém empossado feito um escovão por baixo dos lábios. Ora em sentido horário e noutra ao contrário. Finalmente a operação se encerra. Ele abre a boca, expõe a dentadura e pergunta:

- Saiu?
- Não.
- E agora?
- Faça uma massagem com dedo sobre o lábio do local. – A assessora existe para tentar alternativas de solução para os problemas.

E novamente a operação recomendada é realizada. Termina e então:

- Saiu?
- Não! – agora já há uma exclamação na resposta. A situação ficou crítica. Não existe palito na sala de despacho do Secretário Municipal de Saúde. Mas a criatividade da Assessora justifica todo o seu potencial. O que mais abunda no ambiente burocrático além de grampos e clipes? Você sabe. Caneta Bic.

A Assessora mostra a sua capacidade operacional. Toma a tampa da caneta e ela mesma e com vantagem de observar a operação de frente, vai à cavas entre os dentes e num rápido e eficiente golpe extrai aquela casca indigesta.

A audiência se encerra como um apoteose ao exercício do poder civil. Ao comentar com uma colega sobre a grande realização do dia, ela provoca:

- E se a secretária dele entra bem na hora da operação de extração da casca do feijão?

2 comentários:

socorro moreira disse...

Muito bom !
E eu que pensei que o dia era findo ... ( risos)

Claude Bloc disse...

Para fechar o domingo com um bom texto...

Abraço,

Claude