Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

TRADIÇÃO ORAL - BISAFLOR CONTA HISTÓRIAS

No seu constante viajar de contadora de histórias, Bisaflor foi bater em Fortaleza. Walda, filha de Adalgisa, uma antiga amiga, a recebeu na sua casa e promoveu uma animada roda de contação de histórias. Vieram todas as crianças da redondeza e muitos adultos também, inclusive Magali e Carlos, com os netos. Bisaflor contou muitas histórias, e as crianças Lourenço, Vitória e Gabriel pediram que contasse “de novo” a da “vovó peluda”

VOVÓ OGRA TÃO PELUDA

Certa vez uma mãe mandou a filha ir à casa da avó pedir uma peneira emprestada. Após preparar a cestinha com a merenda (roscas e pão feito com óleo), a menina seguiu para a casa da avó. No caminho ela teria que atravessar o rio Jordão, e, lá chegando, pediu que o rio a deixasse passar.
- Deixo sim, se você me der as roscas da sua cestinha.
A menina já sabia que o rio Jordão adorava brincar com as rosquinhas, rodopiando-as nos seus redemoinhos. Deu-lhe todas as roscas da cesta.
O rio abriu-se e a menina passou. Andou, andou até chegar em frente à Porta Gradeada.
- Porta Gradeada, me deixa passar?
- Se você me der o pão com óleo, já está do outro lado.
A Porta Gradeada tinha um fraco por pão fritado no óleo, só porque o óleo untava suas dobradiças enferrujadas.
A menina deu-lhe o pão e a porta se abriu, deixando-a passar.
Quando chegou à casa da avó, encontrou a porta fechada. Chamou, pedindo que abrisse a porta. De dentro de casa veio a resposta:
- Estou acamada, não posso levantar-me, entre pela janela.
- É alta, não alcanço.
- Ah, entre pela gateira.
- Ora, não posso, vovó.
- Aguarde um pouco que vou jogar uma corda e te puxar pela janela.
Quando subiu, a menina achou o quarto escuro, mas, até então, não desconfiou de nada. Nem imaginava que era a Ogra quem estava na cama, muito menos que ela havia engolido sua avó, inteirinha, deixando apenas os dentes, que colocou pra cozinhar, e as orelhas que estavam sendo fritadas numa frigideira.
- Vovó, mamãe mandou buscar a peneira.
- Amanhã você leva, está tarde para voltar. Deite-se comigo.
- Mas tenho fome, vovó, que vou comer?
- Tem feijão cozinhando na panela.
A menina mexeu o conteúdo da panelinha, que eram os dentes da avó, e falou que estavam muito duros.
- Tem umas fritadas prontas. Sirva-se.
Na frigideira estavam as orelhas. A menina tocou-as com o garfo, não estavam no ponto.
- Vovó, a fritada não está crocante, não quero.
- Não há outra coisa para você comer, venha deitar-se.
A menina acomodou-se na cama, perto da avó. Admirou-se de suas mãos peludas:
- Nossa! Como suas mãos são peludas, vovó.
- Ah, isso é por causa do monte de anéis que eu usava nos dedos.
Tocou no peito da avó.
- E seu peito, vovó? Por que é tão peludo?
- Eu usava inúmeros colares no pescoço, com muitas contas, muitas correntes, aí ficou assim.
Tocou nos quadris da avó.
- Por que tem os quadris tão peludos, vovó?
- Passei muitos anos usando um espartilho muito apertado, o resultado foi esse que você está vendo.
A menina pegou em sua cauda, achou muito estranho, a avó jamais teria um rabo, podia até ser tão peluda, mas ter rabo já era demais. Matou a charada na mesma hora: aquela só podia ser a Ogra e não sua avó. Falou, então:
- Vovó, preciso fazer uma necessidade antes de dormir.
- Então vá até a estrebaria, eu lhe ajudo a descer pelo alçapão, depois que você fizer sua necessidade eu puxo a corda novamente.
Quando a menina chegou lá embaixo desamarrou-se e começou a prender uma cabra na corda. A avó perguntou se ela já tinha terminado.
- Espere só um pouquinho, vovó.
Ela precisava de um tempinho mais para prender a cabra bem firme.
- Pode me puxar agora, vovó.
Mal a Ogra começou a puxar a corda, a menina pôs-se a xingar:
- Ogra peluda! Ogra peluda!
Abriu a estrebaria e pernas pra que te quero! Enquanto isso a Ogra puxava a corda e quando avistou a cabra, pulou da cama e disparou em correria atrás da menina.
Ao avistar a Porta Gradeada, já de longe gritou:
- Porta Gradeada, não deixe essa menina passar.
- Não tenho motivos para isso, ela me deu pão com óleo.
Perto do rio Jordão, a Ogra voltou a gritar:
- Rio Jordão, não baixe suas águas, não deixe a menina passar.
- Claro que eu vou baixar minhas águas, ela me deu rosquinhas.
Quando a menina acabou sua travessia, as águas voltaram a subir, no mesmo momento em que a Ogra chegou à beira do rio. E como vinha em louca correria, atirou-se na água e foi arrastada pela correnteza.
Do outro lado do rio, a menina se divertia fazendo mungangas para ela.
- Bem feito Ogra peluda! Vai morrer afogada!
.

5 comentários:

socorro moreira disse...

A menina safou-se da Ogra , mas e a vovó?
Mulher do céu você conseguiu deixar muitos netinhos chorando.
Mas gostei da criação, em cima da velha história de chapeuzinho.


Beijo

Stela disse...

É, Socorro, cada povo contou, adaptou, readaptou, conforme seu gosto, visão, tradião e costumes.
Este conto eu li em "Fábulas Italianas" - seleção de Italo Calvino. E recontei. Eu nem analiso as histórias, eu as reconto, escrevendo-as, quando elas me encantam. É isso. beijos.

Unknown disse...

Stela minha irmã, caçadora de letras, criadora de nomes, fonte de criação, vida!
Stela minha irmã, contadora de histórias, faladora de palavras, fascinação!
Stela minha irmã, minha irmã, irmã!

Anônimo disse...

Stela,

Eu,Carlos, Walda, Lourenço, Vitória e Gabriel, gostamos muito da história. Imagine que Gabriel veio do Crato, só para ouvir essa história.
Walda ficou tão feliz que me pediu para lhe parabenizar em nome dela.
Aguardaremos as próximas.

Abraços

Claude Bloc disse...

Stela de Deus!

Quando eu era pequena morria de medo de Ogros...

Tremi nas bases, mas adorei a história. (risos)

Abraço,

Claude