É bem fácil, e até divertido, fazer uma analogia do amor com uma viagem. Não lembro quem me disse um dia destes, que para saber se uma relação amorosa pode ser legal, o melhor, antes de juntar os trapos, é viajar juntos. Há que se ter muita paciência mútua para ficar dias num mesmo carro, quarto de hotel, barraca, enfim, seja o que for, durante um tempo sem se incomodar, às vezes, com questínculas, como diz o diminutivo redundante, bem mínimas.
Numa viagem, como num amor, em algum momento um quer ir, o outro quer voltar, um quer o leste, outro o sul, quer ternura outro o tesão. Para que a viagem seja harmoniosa, alguém tem que ceder, ainda mais se a ideia é ficar juntos até o fim, ainda que não saibamos bem direito o que seja o fim. No amor, como numa viagem, os termos são mesmos. “Nosso destino”, “seguir juntos” ou “essa nossa jornada” têm conotação igual tanto para quem viaja quanto para quem ama.
Tanto o amor quanto a viagem têm um começo, um meio e um fim, mesmo que esse fim seja indesejado. Talvez, uma das poucas coisas que diferencie o amor da viagem seja a frase “juntos para sempre”, até porque as viagens são mais curtas do que um “para sempre”.
No amor também é necessário “traçar um rumo”, e, no meio, “rever o destino”. Também é possível, tanto na viagem quanto no amor “mudar os planos”. Esta frase talvez seja a maior responsável pelo fim das viagens ainda na metade, assim como dos amores.
Tanto numa viagem quanto no amor, talvez o grande barato seja o frio na barriga do começo, as incertezas e dúvidas no meio, e a saudade e a melancolia do fim. Para amar, às vezes, é preciso comprar uma passagem só de ida, ou arrumar as malas, ou voltar desde o começo da estação, ou jogar o bilhete fora, porque a viagem supostamente não tem futuro.
Mesmo que leve duas semanas para chegar o dia, ou quatro horas e meia para desembarcar no grande e quase utópico terreno de batalha ao qual chamamos de hotel, o amor é mesmo uma viagem, cujo destino é o imponderável, e cuja consequência é o incomensurável.
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