Quando nasci,
Buscava eternizar-me,
Sobrevoar a poeira do tempo,
Desdobrar-me em circunstâncias,
Transpor a finitude,
Expor-me aos experimentos do espaço,
Extrair-me do cotidiano,
Antecipar-me ao futuro,
Sobretudo esgueirar-me ao passado.
E vim entre tais promessas,
Sujeitando-me ao esmeril do tempo,
Teimando em perenidade.
Qual nada me descobri mais.
Nem finito e nem eterno,
Apenas singular.
Criadores & Criaturas
"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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2 comentários:
"Esgueirar-me do passado", só se for no plural. A união faz o presente singular.
Gosto do escritor Zé do Vale, em prosda e verso !
José do Vale,
Nos entremeios de sua singularidade, minhas palavras pequenas....
Abraço,
Claude
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Quando nasci,
Buscava eternizar-me,
- ser raíz e semente
- na posteridade
Sobrevoar a poeira do tempo,
Desdobrar-me em circunstâncias,
- e nas latitudes da vida
- ser hora, ser encontro marcado
Transpor a finitude,
Expor-me aos experimentos do espaço,
- provar a seiva e o sumo
- beber o néctar e o bálsamo
Extrair-me do cotidiano,
Antecipar-me ao futuro,
Sobretudo esgueirar-me ao passado.
- pois que no passado ficaram as dores
- e os sorrisos abandonados
E vim entre tais promessas,
Sujeitando-me ao esmeril do tempo,
Teimando em perenidade.
- E pelo éter deixando-me ficar
- sedimentando-me, edificando-me
Qual nada me descobri mais.
Nem finito e nem eterno,
Apenas singular.
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